De morador de rua ao 1º lugar

22/04/2017 às 20:14.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:14

No último domingo parabenizei a jovem Damires, cuja foto circula nas redes sociais. Em plena solenidade de formatura, ela se deparou com um cartaz, atribuído aos pais, como os seguintes dizeres: “Damires, você não fez mais que sua obrigação”. Desconheço a motivação dos pais, embora eu tenha criticado tal atitude.

Também desconheço a condição social daquela jovem. Mas, com toda certeza, ela não enfrentou privações como o concurseiro Marcelo Santiago, não tão jovem como a Damires, mas cuja trajetória de vida o faz igualmente merecedor dos meus parabéns.

Marcelo perdeu o apoio da família. Então, nos momentos em que merecia os parabéns, não pôde contar nem mesmo com quem lhe dissesse: “você não fez mais que a obrigação”. Aos 39 anos de idade, era morador de rua. Viu-se obrigado a abandonar o curso de Gestão Pública que fazia numa universidade. Passou fome, não tinha onde dormir ou tomar banho.

A sorte do morador de rua começou a mudar quando, lendo um anúncio, soube de um concurso da Prefeitura de Belo Horizonte para a seleção de 300 auxiliares de serviço. O número de inscritos foi de 12.000 aproximadamente. Então, a temida relação de candidatos por vaga alcançou o patamar de 40.

Entrevistado pela TV Record-Minas, alguns dados chamaram a atenção. Ao falar da dificuldade trabalhista, não usou a expressão “emprego”, preferindo dizer “trabalho”. Ao falar das privações, não fazia nenhuma expressão de revolta. Quando falou da conquista do 1º lugar entre 12 mil candidatos, também falou sobre seus sonhos, demonstrando a sabedoria de recordar o passado sem se prender a ele, fazendo do futuro o tempo das melhores esperanças.

Sem expressar qualquer posição de vítima, seja da família ou da sociedade, o que mais chama a atenção na entrevista é o sorriso. Marcelo Santiago é uma dessas raras pessoas que enfrenta bravamente as adversidades, que luta incansavelmente pelos seus sonhos e que, sobretudo, sabe estampar um sorriso no rosto, distribuindo gratuitamente a alegria para os que estão a sua volta.

Perguntado sobre a maior lição de sua trajetória, ele destacou a importância de estudar para dar “uma guinada na vida”. Também destacou os verbos “acreditar” (sempre) e “desistir” (nunca). Tanto que ele segue acreditando, e não vai desistir enquanto não realizar mais um sonho: comprar uma casa própria. É assim que Marcelo, que já se livrou de morar na rua, pretende se livrar de morar de aluguel.

Alguém duvida que ele conseguirá? Então, se você não divida que ele conseguirá, não duvide de si mesmo. E, para começar sua jornada, alegre-se com a conquista do antigo morador de rua, juntando sua voz à de milhares de leitores e à deste articulista para dizer com redobrado entusiasmo: “Marcelo, parabéns!!!

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