Dinheiro, pra que dinheiro?

21/08/2018 às 21:54.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:02

José Roberto Lima*

O primeiro dia de funcionamento dos bancos após a medidas do Plano Collor foi um “Deus nos acuda”. Todos os clientes só podiam sacar o equivalente a menos de R$ 2.000 em valores atuais. <TB>E aquele posto bancário interiorano recebeu a visita de um ilustre cliente, o mais rico fazendeiro da região. O gerente assustou-se com os capangas que faziam comitiva, ostensivamente armados.

– A que devo a honra da visita, Coronel? Ele era assim chamado porque vinha de uma família, cujos varões tinham a referida patente militar.

– Eu sempre ponhei os lucro das minha fazenda pro cêis guarda. Agora eu ouvi no noticiaro que nóis só pode tirá um tantim. Eu quero o meu dinhêro todim de vorta.

– Claro Coronel! Mas as medidas do Governo determin...

– Eu num quero sabê de nada! Eu quero é o meu dinhêro.

Fincando o dedo indicador sobre a mesa do gerente, concluiu: – “E tem qui sê agora!”.

Sendo inútil resistir, o gerente ordenou o tesoureiro a separar os malotes para o vultuoso saque.

Ao se distanciar do fazendeiro, o gerente acionou a Polícia e descreveu os fatos. E veio a informação do sargento que dispunha de apenas 10 soldados:

– Nós estamos sabendo desse tumulto aí em frente ao banco. E por isso não agiram ainda. Não temos supremacia de forças. Estamos aguardando reforços da capital.

Tentando ganhar tempo, o gerente disse ao cliente: – “O cofre tem fechadura de retardo e só vai abrir amanhã.

- É mermo, Doutô? Tem fechadura de retardo? Pois o Zelão, esse cabra qui é meu braço dereito, tem uma espingarda de “adiantardo”.

Sem condições de resistir, o gerente separou uma montanha de dinheiro. Para o seu alívio, os reforços policiais haviam acabado de chegar e renderam os capangas. O fazendeiro, porém, permanecia indiferente a todo movimento , pois só tinha olhos para a sua grande fortuna.

O oficial da operação dirigiu-se ao balcão para garantir ao banco a posse do dinheiro. Mas, ao se aproximar, viu o fazendeiro acariciando as notas, ao mesmo tempo em que ordenou num suspiro aliviado: – “Agora pode guarda. Eu só quiria matá a sardade”. 

*Advogado, professor da Faculdade Promove, mestre em Educação, delegado federal aposentado e autor de “Como Passei em 15 Concursos”.
 

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