O primeiro dia de funcionamento dos bancos após a medidas do Plano Collor foi um “Deus nos acuda”. Todos os clientes só podiam sacar o equivalente a menos de R$ 2.000 em valores atuais.
E aquele posto bancário interiorano recebeu a visita de um ilustre cliente, o mais rico fazendeiro da região. O gerente assustou-se com os capangas que faziam comitiva, ostensivamente armados.
- A que devo a honra da visita, Coronel? Ele era assim chamado porque vinha de uma família, cujos varões tinham a referida patente militar.
- Eu sempre ponhei os lucro das minha fazenda pro cêis guarda. Agora eu ouvi no noticiaro que nóis só pode tirá um tantim. Eu quero o meu dinhêro todim de vorta.
- Claro Coronel! Mas as medidas do Governo determin...
- Eu num quero sabê de nada! Eu quero é o meu dinhêro.
Fincando o dedo indicador sobre a mesa do gerente, concluiu: “E tem qui sê agora!”.
Sendo inútil resistir, o gerente ordenou ao tesoureiro que separasse os malotes para o vultuoso saque.
Ao se distanciar do fazendeiro, o gerente acionou a Polícia e descreveu os fatos. E veio a informação do sargento que dispunha de apenas 10 soldados:
- Nós estamos sabendo desse tumulto aí em frente ao banco.
- E por que não agiram ainda?!
- Não temos supremacia de forças. Estamos aguardando reforços da Capital.
Tentando ganhar tempo, o gerente disse ao cliente: “O cofre tem fechadura de retardo e só vai abrir amanhã”.
- É mermo?! O Zelão, esse cabra aqui é meu braço dereito. Ele resorve isso. Para fechadura de retardo ele tem a espingarda de “adiantardo”.
Sem condições de resistir, o gerente separou uma montanha de dinheiro. Para o seu alívio, os reforços policiais haviam acabado de chegar e renderam todos os capangas. O fazendeiro, porém, permanecia indiferente a todo movimento a seu redor, pois só tinha olhos para a sua grande fortuna.
O oficial da operação dirigiu-se ao balcão para garantir ao banco a posse do dinheiro. Mas, ao se aproximar, viu o fazendeiro acariciando as notas, ao mesmo tempo em que ordenou num suspiro aliviado: “Agora pode guardá. Eu só quiria matá a sardade”.