No capítulo anterior...

15/12/2020 às 19:34.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:19

Há alguns anos, cada capítulo de uma novela girava em torno de um único contexto, cujo desfecho ficava para o capítulo seguinte. Além disso, os fatos ocorriam de modo calmo, se comparado com a velocidade com que as estórias são contadas nos folhetins atuais. As novelas da Manchete, por exemplo, tinham longas imagens sem nenhuma ação, cujo objetivo era mostrar as belezas do Pantanal ou de outras paisagens. 

Mas, com o advento das redes sociais, ficamos ansiosos em ver logo o começo da estória, com o desfecho quase imediato dela. E recebemos uma montanha de conteúdos ao mesmo tempo. Tudo vem de modo tão rápido e em tanta quantidade que não temos tempo nem sequer de emocionar com a mensagem do autor, muito menos refletir sobre ela.

É por isso que, nos dias atuais, antes de começar um capítulo novelesco na TV, escutamos a frase do locutor: “No capítulo anterior...”. E segue-se uma coletânea de cenas. Porque é impossível memorizar todas mesmo.

Antigamente, como era apenas um contexto em cada capítulo, o público, durante todo o dia seguinte, ficava pensando sobre a cena final. E nenhum locutor precisava de lembrar sobre tantas coisas que aconteceram anteriormente. Noutras palavras, como não havia rapidez nas cenas para contar muitas coisas ao mesmo tempo, e como não havia exagero de conteúdos, a história era memorizada. 

Algo semelhante ocorre nos estudos. Alguns alunos, como o sincero propósito de aprender, costumam propor muitas perguntas ao professor. No caso do Direito, os temas vão desde as garantias constitucionais até a última notícia do YouTube.

Na minha prática do Magistério, nunca tomei a palavra de nenhum aluno quando fazem essas perguntas. E sempre procurei respondê-las.

Porque, mesmo quando o tema é impertinente, existe a vontade genuína de aprender.

Por outro lado, os próprios alunos começam a reconhecer que há uma aula preparada e pensada para eles. E assim, sempre que eu volto aos conteúdos a serem lecionados, relembro que nunca despejarei uma montanha de conhecimentos numa única aula. 

Porque estudar é como ver uma boa novela antiga: um conteúdo de cada vez, para que tenhamos tempo de nos emocionar e, assim, memorizar a história. Porque, na hora da prova, não haverá ninguém pra sussurrar no seu ouvido; “No capítulo anterior...”.

A todos eu desejo bons estudos.

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