Saudade da ativa

22/04/2017 às 20:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:15

“Você sumiu. Parece que se esqueceu dos amigos da repartição”. Esta é uma queixa recorrente que nós, aposentados, ouvimos. Bem, nesta trajetória de aprovação em 15 concursos, o que mais me orgulha é ter exercido o cargo de delegado federal por mais de 15 anos. Então, como poderia me esquecer dos colegas?

Mas reconheço que vou com pouca frequência à Polícia Federal. Atribuo isso, e espero a compreensão dos meus pares, às muitas atividades que desenvolvo: como professor de Direito Penal, preparação e execução das aulas; como escritor e palestrante, viagens por diversas cidades do Brasil; como colaborador do Hoje em Dia, redação destes artigos semanais com dicas para os concurseiros.

Nos últimos dez anos de trabalho policial, estive empenhado em comissões de processos disciplinares, atividade para a qual poucos se voluntariam. Era uma correria entre as diligências e o deslocamento até a faculdade onde leciono. Nos finais de semana eu me deparava com reflexões sobre como dava conta de tudo.

Mesmo assim, decorridos dois anos de aposentadoria, a saudade me aperta sempre que me lembro das missões policiais, quando protagonizamos histórias para, no futuro, contá-las aos netos. O bom disso tudo é que, na condição de professor, escritor e palestrante, posso retransmitir aos jovens tudo que aprendi nestas décadas de práticas e teorias úteis ao incremento de qualidade nos estudos.

Também não posso me queixar por ter muitas atividades, quando tantos aposentados sofrem justamente por não terem nenhuma. Dizem que, quando paramos, o corpo começa a enferrujar. No caso de muitos servidores públicos, que não se preparam para os tempos de aposentadoria, além do risco da ferrugem, acabam enfrentando a síndrome do Jack. Explico: Jack que você está à toa, conserte o telhado. Jack que você está à toa, troque a lâmpada. Jack que você está à toa ...

Espero que esta reflexão seja útil aos concurseiros. Afinal – não tenham dúvida – uma carreira de sucesso, seja no setor público, seja no setor privado, inclui um plano de preparação para a aposentadoria.

Juca Chaves, cantor e um dos humoristas mais cultos do Brasil, gravou a música “sentir-se jovem”, na qual afirma que “fica mais velho quem ter medo de ser velho, roubando o sonho de algum adolescente. A idade é uma verdade, não ilude quem dividiu a vida com prazer. Velho é se drogar de juventude. Ser jovem é sabe envelhecer”.

Então - concluiu o Juquinha - “não faça da velhice uma desculpa e nem da juventude profissão”. Saudade? Você sentirá dos tempos da ativa. Mas não sofra por isso. Dedique seu tempo a alguma atividade. Ou você quer ser corroído pela ferrugem e pela síndrome do Jack?

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