Sigilo e eloquência

28/08/2018 às 22:11.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:10

 Este “causo” não é propriamente sobre a atividade policial. Tem mais a ver com o cotidiano da advocacia. Foi contato pelo Dr. Marcelo Leonardo, de quem tive a honra de ser aluno na UFMG.A história ilustra duas virtudes que o advogado deve ter. Uma delas é a capacidade de guardar segredo. Com efeito, as pessoas em geral acham normal que um padre guarde segredo das confissões. Também esperam segredo de um médico, de um psicólogo e – principalmente – de um amigo. Mas o dever de sigilo do advogado costuma ser mal interpretado. É claro que o advogado não deve aliar-se aos criminosos, pois tornar-se-ia um deles. Mas tem – sim – o dever de guardar segredo.Outra virtude dos bons advogados é a eloquência dos argumentos. E eis que, numa pacata cidade, quando entrara em vigor a Constituição Cidadã, um jovem advogado se viu diante de um caso que lhe exigia estas duas virtudes: sigilo e eloquência. Um fazendeiro era acusado de homicídio contra um posseiro. “Eu matei mermo, douto, mas vou negar”. O advogado tentou dissuadir seu cliente:– As provas são inegáveis. Mas eu posso apresentar a tese da legítima defesa, pois o posseiro estava armado e temos testemunhas disso. – Não, eu vou negá – insistiu o fazendeiro. O Sinhô nunca ouviu falá no tal dus dereitos humanos?! Num te insinaram isso na facurdade, douto?! Se eu confessá o crime eis num vão querê sabê que o possêro tava armado. Eis vão me condená.  Sendo inútil convencê-lo do contrário, o advogado apresentou a tese de negativa de autoria. No dia do julgamento, veio a condenação por quatro votos a três. Doutô, pode prepará o recurso. E num adianta falá em admiti a curpa, que eu vô continuá negano. Feito novo julgamento, o advogado preparou um discurso mais que eloquente. E negou com tanta veemência que alguns dos jurados até choraram. O resultado foi sete a zero pela absolvição.No dia seguinte, cliente a advogado se encontraram na barbearia da cidade: – Doutô, o Sinhô falô tão bunito onti, doutô! O Sinhô falô tão bunito que até eu acreditei. Eu tô achando que num matei mermo não. *Advogado, professor da Faculdade Promove, mestre em Educação, delegado federal aposentado e autor de “Como Passei em 15 Concursos”. 

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