O vício de decidir por intuição gera prejuízos

03/12/2021 às 21:22.
Atualizado em 08/12/2021 às 01:12

Ao participar de várias reuniões no decorrer de mais de três décadas de trabalho na área imobiliária, seja como advogado, consultor na compra, locação ou em assembleias de condomínio, percebo o vício das pessoas tratarem assuntos de grande complexidade de maneira simplista, sem analisar as reais motivações, particularidades e consequências. Simplesmente opinam, com base no senso comum, sobre questões que envolvem valores vultosos, relações familiares ou empresariais que deveriam ser preservadas. Com a desculpa da falta de tempo, com uma pressa que beira a irresponsabilidade, há pessoas que decidem sem se importar com eventuais prejuízos, com o agravamento de um conflito, pois se recusam em investir numa alternativa mais adequada para a solução do problema.

Visando economizar, as pessoas desvalorizam o conhecimento especializado, a consultoria isenta de interesse na conclusão do negócio e assim deliberam. Mas, quando ocorre o problema, jogam a culpa nos outros ou criam com extrema rapidez e engenhosidade uma desculpa. Assumir o prejuízo, nunca! Fora de cogitação reconhecer que agiu por intuição, que deixou de ler o que deveria e, se o fez, não compreendeu o texto e os reflexos por não dominar o assunto.

Assim, rotineiramente, pessoas inteligentes e de sucesso em sua atividade se arrependem do negócio que fizeram não terem refletido sobre as suas particularidades que não têm relação com seu dia a dia. O planejar, os cálculos, os riscos execução e a impontualidade são ignorados. 

Por isso, ocorrem decisões assembleares inacreditáveis, tomadas de maneira ilógica, contra uma orientação técnica, que acabam gerando mais custos do que o necessário e desgastes entre os condôminos. Nas reuniões sem coordenação de um especialista, o desastre é uma constante, e isso tem se agravado com a nova geração “Dr. Google”, que entende de todos os assuntos, sendo expert no copiar e colar.

ORIGEM CULTURAL

Ao ler a entrevista do doutor em ciência política Francisco Weffort, ex-ministro da Cultura de 1995 a 2002, na Folha de São Paulo, do dia 24/12/12, me chamou atenção a sua declaração: “A capacidade prática deste país de fazer sem saber é enorme. Uma vez conversei com uma figura importante na construção de Brasília. Ele comentava que tinham medo que o lago não enchesse, que as árvores não crescessem. Quase perguntei por que fizeram Brasília aqui. Eles eram de uma grande audácia e de uma enorme ignorância, mas fizeram uma imensa cidade.”

É impressionante o vício de pedir desculpa por erros previsíveis, que foram apontados por alguém que participa da reunião, tendo esta sido ignorada. É comum, numa assembleia, negar o registro dos argumentos lógicos na ata, para evitar que fique evidenciado o responsável pela decisão infeliz que posteriormente resultar em danos ao condomínio.

Há ainda a demora no agir, pois, ao perceber um problema, pessoas que valorizam a paz e o sossego acima de tudo acabam perdendo seu patrimônio e aumentando seu prejuízo ao achar que é melhor esperar, contar com a sorte e acaba ocorrendo a prescrição. Até quando a razão e a lógica serão desprezadas?

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