A guerra da vacinação

17/09/2018 às 19:22.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:30

Parcela ponderável da população não quis vacinar-se contra determinadas enfermidades, embora soubesse que correria risco no futuro. As crianças foram na onda dos adultos, os pais ou responsáveis, ou irresponsáveis, poder-se-ia dizer. As autoridades insistem, os meios de comunicação advertem, mas os resultados não são os que se deveria esperar, inclusive para acusar proximamente o governo por omissão na área da saúde. 

No ano da graça de nosso senhor Jesus Cristo, em 2018, a dois dias da finalização da Campanha Nacional de Vacinação, 94% das crianças já se tinham vacinado, isto é, mais de 10 milhões daqueles com 1 a 5 anos receberam o tratamento com mais de 22 milhões de doses contra pólio e sarampo. A cobertura de sarampo alcançou 94,7% e a de poliomielite, 93%. Os faltantes se tornaram vulneráveis.

Voltando no tempo e fazendo comparação, se concluirá que o brasileiro não evoluiu expressivamente muito, e, seria, se possível, até útil verificar que o passado não é tão distante. Em 1897, ano em que se oficializou o Catete como sede do governo da República – ano também da inauguração de Belo Horizonte como capital dos mineiros –, a residência presidencial recebeu o nome que até hoje tem. Pois na administração de Rodrigues Alves (1902–1906), terceiro presidente civil, paulista como os antecessores Prudente de Moraes e Campos Sales, o palácio pela primeira vez abrigou tropas militares para defender o mandatário. 

Aconteceu de maneira surpreendente. A população do Rio de Janeiro se rebelou contra a lei da vacina obrigatória, proposta pelo sanitarista Oswaldo Cruz. Aprovada em 31 de outubro de 1904, ela tornava obrigatória a imunização contra varíola. 

A temperatura política estava quente e o calor foi transmitido às ruas. Oposicionistas e alunos da Escola Militar aderiram ao movimento. Estava-se ao lado do povo, dizia-se, e contra medidas de força. Os conflitos eclodiram em antigos bairros da cidade – que já era maravilhosa, mas também tumultuária –, estenderam-se ao centro da capital e, no cômputo geral, resultou em dezenas de mortes. O presidente não se acovardou: aconselhado a se retirar do Palácio, teria respondido: “é aqui o meu lugar e daqui só sairei morto”. 

A expressão, coincidentemente, teve demonstração prática, no mesmo Palácio, em 24 de agosto de 1954, quando Getúlio Vargas, pressionado por lideranças da oposição e chefias militares, decidiu pôr termo à vida. Matou-se com um tiro no peito, no seu aposento no terceiro andar, quase causando uma revolução. 

Os conhecedores da mansão, adquirida a um particular, informou que o quarto de Vargas dormir ficava na lateral do prédio, voltado para o jardim. Quando lá se instalara, aproveitou o mobiliário da época em que residiu no Palácio Guanabara, no primeiro governo, e contava com um banheiro anexo.

Parecia que o preparara durante anos, para o derradeiro sono: o da morte. A que poderão ser conduzidos os que, tantos anos após, foram recalcitrantes ou omissos com relação aos próprios filhos. 

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