A independência em xeque

28/08/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:16

Sete de setembro, dia de comemoração. Pedro, o príncipe, vinha de viagem ao Rio Grande do Sul e São Paulo, aonde fora a harmonizar situações. Às margens do ribeirão Ipiranga, parou para ler cartas com notícias de Portugal, embora existam outras versões. Soube, assim, que os brasileiros que em Lisboa representavam os cá da terra, tinham sido até insultados. De estopim curto e diante do ultimato da Corte para voltar a Europa, exaltou-se e pronunciou o “Independência ou Morte”.

É mais ou menos o que se aprende na escola primária e tem foros de verdade, com nuances. Mas é fato. No entanto, a sequência dos acontecimentos não foi das mais tranquilas. D. João VI havia construído um sistema para preservação da colônia. A terra era muito extensa, as comunicações horríveis: não havia telefone, telégrafo, internet, satélite etc. 

Surgiram focos de resistência ao projeto libertário do jovem príncipe. Foi, assim, que gente humilde, mas não submissa, decidiu associar-se a ideias emancipacionistas, já expressas em movimentos no território. Entre as lutas pós-Ipiranga, está a “história da sangrenta batalha de Jenipapo”, na região de Campo Maior, no Piauí, cuja capital era Oieiras. O exército português, comandado pelo oficial João José da Cunha Fedié, nomeado por D. João VI governador das Forças Armadas da Província do Piauí, entrou em ação.

O objetivo era manter o Norte, com as províncias do Grão Pará e Maranhão, em contraposição ao 7 de setembro de 1822. Os oponentes ao colonizador enfrentaram os soldados do reino com instrumentos de trabalho: enxadas, facões e foices, transformadas em armas de guerra, com os roceiros e vaqueiros envergando vestimentas de couro, como até hoje.

Francelino Pereira dos Santos, que foi governador de Minas, membro da Academia Mineira de Letras, dentre outros títulos, e Francisco das Chagas Lima e Silva, médico, coordenador do Núcleo de Pós Graduação em nível de Mestrado e Doutorado da Santa Casa de Belo Horizonte, vieram do Piauí, instalaram-se aqui e formaram família, não me contaram estes episódios, mas são fatos.

Adrião Neto, escritor piauiense prestigioso e querido em sua terra, escreveu e fez publicar “O reconhecimento que faltava”, divulgando o embate pouco conhecido e exaltando a coragem daqueles homens simples, agora homenageados com um monumento às margens da BR-342, Km 262, “um espaço de devoção, haja vista as pessoas atribuírem milagres aos mortos na batalha”.

“A notícia do grito da independência” só chegou à região em 19 de outubro de 1822, transcorridos mais de um mês. O governador das Armas, Fidié, não aceitou a decisão de Pedro I. Demorou para agir e encontrou resistência a partir do final de fevereiro de 1823, na vila de Campo Maior. Dois mil homens rústicos – vaqueiros, roceiros e gente do povo – enfrentaram a tropa lusa, em 13 de março, deixando 400 mortos, com apneas19 baixas portuguesas.

Este o resumo da Batalha do Jenipapo, às margens do rio de mesmo nome, onde se ergueu o monumento, saudado com respeito e reverência no Piauí. Como devem sê-lo pela nação como um todo, inclusive porque de lá é a nova Miss Brasil Monalysa Alcântara. 

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