A inocência dos suspeitos

13/09/2017 às 20:33.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:33

As acusações são gravíssimas e envolvem pessoas dos mais altos escalões da República; pairam suspeitas sobre a conduta de membros do Judiciário, do Executivo e do Legislativo. A honestidade e a dignidade daqueles a que se atribui a elevada distinção de representar o cidadão nas grandes decisões nacionais, envolvendo o presente e o futuro, estão no plano das dúvidas. E mais do que isso.

Não tratamos sequer da participação de grupos empresariais de reconhecido conceito até aqui dentro e fora do país; tampouco de outras organizações de pessoas que, no decorrer das investigações, surgem no âmago dos escândalos. A notícia dos mais vis atentados contra a honra não mais surpreende ou causa indignação. 

O quadro é de estarrecimento, se adequado o substantivo, como espanto e assombro. No entanto, só se tomou conhecimento da extensão e profundidade da tragédia quando ela já envolvia segmentos importantíssimos de nossa vida como país, nação e povo. Como se permitiu? 

Sem embargo, diante de declarações, testemunhos, informações, denúncias, a alegação é de que não há provas. Ao contrário do título do velho filme francês “Somos todos assassinos”. Todos se afirmam inocentes. Candidamente injustiçados.

Há de se concordar com Ricardo Mendes, autor de “Os 8 Portais do Caminho” e “Andando em Círculos”, considerando certa benevolência com relação a muitos dos ora arrolados por suspeita de delinquência. Não me parece que “a inocência, como o para-brisa de um automóvel, é um item que trazemos de fábrica. Ela nos dá o álibi de que precisamos para desembarcar no mundo imaculado, sem que ninguém possa de antemão dizer que estamos implicados em qualquer assunto”.

A grande maioria dos envolvidos na delinquência certamente sabia de seus atos, dos riscos que corria, distante da perspectiva infantil, “perpetuando a fantasia de que é possível crescer neste mundo protegido pelo blindex da inocência”.

Em verdade, “ninguém é obrigado a ocupar posições se não se sente preparado ou se dobrar as tentações do caminho,.... o do poder é árduo, com muitos testes cujas “consequências podem atingir milhões de outros”.

O articulista se espanta por a discussão girar “unicamente em torno da falta de provas, do desconhecimento de práticas tão antigas inerentes a esse mesmo sistema. Somos levados a criar torcidas como no futebol, que se enfrentam nas ruas e expressam de maneira irrefletida o papel ordinário que nos coube a todos: escolher o lado de defendê-lo nas redes sociais”.

Neste sentido, parece secundária a discussão sobre qual partido ou político deveria ocupar o posto de presidente. Uma estrutura à mercê de interesses corporativos não é a conveniente. 

Verdade: “mais do que governos de esquerda ou direita, precisamos que o poder seja ocupado por quem possa sustentar a perspectiva do Amor no olhar para o bem-est5ar coletivo. Estou cansado desta discussão polarizada que apenas nos divide, opõe, mas não toca no essencial. Me recuso a compartilhar da inocência de qualquer sigla e de doar meu tempo para fomentar o ódio de qualquer das partes que se deixaram partir”. 

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