A mortandade

03/07/2020 às 20:21.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:56


Há de se tomar conhecimento dos fatos, embora desagradáveis. Vive o Brasil um período de sua história já estigmatizado por dores e sofrimentos de múltipla causa.

Pelo Montesclaros.com, recebo diariamente a síntese do que ocorre no Norte de Minas, uma extensa região vincada por problemas, às vezes, não rigorosamente seus, com as das secas do Nordeste. Milhares e milhares de pessoas a pé, a cavalo, em caminhões, desciam no mapa em busca de melhores condições de sobrevivência. Um espetáculo tristíssimo a que assistimos sem muito ou nada podermos fazer para amenizar o padecimento dos retirantes – homens, mulheres, velhos e crianças, maltratados, pela vida, famintos ou enfermiços.

Faziam pequenos serviços em suas paradas, tentando amealhar alguns trocados até tomar o trem de ferro, pois ali era o final dos trilhos da Central do Brasil, inaugurada no remoto 1926. O Eldorado ficava mais ao Sul, São Paulo, talvez Paraná, que passara a constar dos sonhos dos fugidos da longa estiagem e da pré-miséria.

Extremamente longos os percursos, extremamente penosa a adaptação aos novos locais de trabalho, outras pessoas, os costumes. Mas viver é preciso, aqui ou ali, perto do lugar do nascimento, onde se estabeleceram famílias há décadas e décadas.

Mas, no ano da graça de 2020 de nosso Senhor Jesus Cristo, eis que aparece uma nova desgraça, esse tal de coronavírus, muito maior e destruidor de esperanças que outras pestes e pragas de eras passadas. Muita dor, que proíbe até as pessoas saírem de casa, no sertão remoto ou mesmo no Sudeste ou Sul, que representavam esperança.

As pessoas ficam doentes, não mais de gripezinhas ou dor de barriga, de irritação na pele ou febre. Mais do que isso, a doença nova é ameaçadora e perigosa, mata milhares, muitos milhares, como dizem os jornais, televisões e as rádios. E mais: atinge todos, de qualquer idade, sem dó. As estatísticas são reveladoras. Muitos milhares sob acompanhamento médico rigoroso, novos casos, muitos óbitos confirmados, um número enorme de pessoas em observação.

No norte-mineiro, Salinas prorroga o isolamento total por mais muitos dias, depois que o número de casos duplicou em uma semana. Comércio fechado, supermercados, padarias e sacolões impedidos de sistema de entrega em domicílio e a circulação de pessoas nas ruas proibida, salvo por força maior. E é a terra de uma das melhores cachaças do Brasil, só consumidas quase às escondidas.

Bocaiúva, terra de José Maria Alkmin, do caricaturista Henfil, dos Dumont, do deputado Patrus Ananias, também professor universitário, volta atrás. As medidas de liberação das atividades gerais também sofrem novo hiato, depois da “flexibilização” – a palavra é, pelo menos, elegante. Suspendem-se as reuniões, atividades públicas e as cerimônias religiosas. A Covid não tem preferência por este ou aquele credo.

Vejo que Montes Claros e Janaúba se incluem entre as cidades de Minas com “situação complicada”. Complicada? Só MOC tem quase 500 mil habitantes... No momento em que redijo o texto, a capital da região chegava a 113 mortes e, Janaúba, a 120, superadas de longe por Uberaba, Uberlândia, Teófilo Otoni, Muriaé, Juiz de Fora e Itabira. Desolador.

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