A Veneza do Norte

10/04/2017 às 17:05.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:05

Os últimos acontecimentos na Europa e no Oriente Médio atraem a atenção para a Rússia, país de maior extensão do mundo. Mais de 10 mil quilômetros separam São Petersburgo, no Oeste, de Petropavlosk, no extremo Leste. Soma acima de 17 milhões de quilômetros quadrados, em dois continentes – Europa e Ásia. 

Mas ali, além de cenário da maior experiência política do planeta no século passado, o é também de obras literárias de grandes escritores dos séculos XVIII e XIX. Bastaria lembrar Dostoievski, Tolstoi e Gogol. Em criações geniais, seus personagens aparecem em antigas ruas e casas de Moscou e São Petersburgo, cujo metrô foi palco de atentado terrorista, com mortos e muitos feridos, há poucos dias.

Meu pensamento casa com o do historiador Morehead. Ele afirma, em um de seus livros, que talvez tenha sido o brilho dos romancistas russos do século XIX que fixou a Rússia czarista tão vivamente em nosso espírito. Pode ser também pela maneira repentina e completa com que aquele mundo desapareceu, fazendo desabar toda a vasta e complexa superestrutura de vida feudal criada pela monarquia russa durante mil anos. E desapareceu para sempre, há exatamente um século, num colapso até agora pouco rememorado e analisado. 

Muito mudou. Até agosto de 1014, quando a Rússia entrou em guerra com a Alemanha, a cidade era São Petersburgo. Passou a Petrogrado, menos germânico.

Em 1924, os bolchevistas transformaram–na em Leningrado. Recentemente, voltou ao original. Mas a cidade se mantém como um dos pontos de maior interesse para turistas e pesquisadores do planeta. A cidade de Pedro merece por tudo que é e contém: o Teatro Mariinski, no qual bailarinas famosas dançavam – e dançam, o Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. Chaliapin se apresentava no Narodny Dom. Em Semenovski, sucediam as corridas de cavalos no campo de desfiles. Sem falar nas pinturas do Hermitage, além das lojas e restaurantes chiques. Frequentemente comparava-se São Petersburgo a Veneza. 

Pedro, o Grande, realizou a metamorfose, antecipando-se a JK, entre nós. Decidiu remover a nação da herança eslava e lançá-la para a cultura da Europa Ocidental, construindo uma nova cidade nos pântanos do rio Neva. O soberano queria que São Petersburgo fosse uma janela para a Europa Ocidental. Milhões de toneladas de granito vermelho foram transportadas para a região. Duzentos mil trabalhadores pereceram de febre e desnutrição, mas Pedro já governou a partir daquela cidade artificial no cimo do Mar Báltico. 

Robert K. Massie recorda-a erguida sobre água. Estendia-se através de nove ilhas, ligadas por pontes arqueadas, rodeadas por canais sinuosos. O rio Neva enfeitava e enfeita. Do lado Norte, a Fortaleza de Pedro e Paulo, encimada por um agudo pináculo dourado, 150 metros acima da catedral fortificada.

Por quatro quilômetros e meio, na margem Sul, estavam o palácio de Inverno, o Almirantado, as embaixadas estrangeiras e os palacetes da nobreza. No tempo de Pedro, ali estava tudo o que era elegante. A sociedade falava francês, não em russo, e os melhores vestuários e mobílias eram encomendadas de Paris. 
Chamada a Veneza do Norte, São Petersburgo revelava-se europeia. E guarda muito da velha tradição. 

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