A vez de Cícero Ferreira

18/08/2018 às 06:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:59

Belo Horizonte, capital, surgiu em meio a muitas dúvidas e resistência das pessoas que continuavam achando que se deveria manter a sede do governo mineiro em Ouro Preto. A situação da saúde, naqueles primórdios, na área da futura metrópole, era extremamente precária. Alfredo Camarate, a favor da transferência, publicou no “Minas Gerais” em 5 de abril de 1894: “o tipo geral deste povo é doentio. Magros, amarelos, pouco desempenados na maioria, havendo uma grande proporção de defeituosos, aleijados e raquíticos”.

Em 1890, os habitantes da povoação eram 600 almas, como se dizia então. Doentes não faltavam, médicos não havia. No lugarejo e demais localidades, usavam-se os práticos, os entendidos, e, em última hipótese, farmacêuticos – e olhe lá. 

Não era pouco. Iniciada a construção da nova capital, o engenheiro-chefe anotou: “a aglomeração de semelhante população, que não prima pelo amor à higiene, o acúmulo de detritos orgânicos e resíduos de toda a ordem, o solo largamente revolvido” constituíam ameaças à saúde.

Eis convidado para trabalhar na Comissão Construtora um jovem nascido em Bom Sucesso, que se formara brilhantemente pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1885, ex-colega do cientista Miguel Couto. Quando houve uma reestruturação nos serviços da Comissão, Cícero Ferreira foi admitido como médico, o primeiro da nova cidade, já que os existentes residiam em Sabará, a cuja Santa Casa serviam. 

Esse médico foi baluarte naquele momento histórico, abrindo caminho aos que vieram depois e que tanto fizeram pela saúde e vida da população e pela construção da estrutura médico-assistencial, indispensável ao desenvolvimento metropolitano. 

Cícero Ferreira foi responsável por debelar uma epidemia de varíola nas velhas cafuas, no princípio do século XX, de construção de um lazareto, lá pelos lados do Calafate, participando decisivamente da fundação da Santa Casa e da Escola de Medicina da Universidade de Minas Gerais. 

Inaugurada a nova capital dos mineiros, em 12 de dezembro de 1897, a Comissão Construtora se manifestou: “em boa hora tinha sido entregue ao senhor dr. Cícero Ferreira o cuidado de velar pela saúde pública, e é inquestionável a eficácia dos ativos e zelosos esforços por ele empregados”.

Prematuramente falecido, foi homenageado com seu busto nos jardins da Faculdade de Medicina, na avenida Alfredo Balena, ex-Mantiqueira. Nele, está inscrito: “foi bom, foi sábio, foi justo, foi realizador; não morrerá de todo”.

Para o historiador da medicina na capital, Pedro Sales, Cícero Ferreira era uma dessas personalidades raras, reunindo em si várias qualidades. Mostrou-se homem de pensamento e de ação, idealizador e realizador sempre estudioso. Em idade madura aprendeu o alemão, visando descobrir outros campos da medicina, atendendo também pacientes que vinham de longe para consultá-lo. 

Tanto é verdade que será homenageado em 20 de agosto, às 19h, com o lançamento do livro, em três volumes, de autoria do escritor Mário Lara, com o título “Cícero Ferreira – Um apóstolo da medicina”. 

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