A Zona da Mata de Torga

20/05/2016 às 18:59.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:32

O escritor Rogério Couto Moreira publicou, como separata da Revista da Academia Mineira de Letras, na primeira edição deste ano, “Geografia Sentimental de Miguel Torga em Minas & Outros Escritos”.

rocedeu bem, pois oferecerá prazer intelectual a quem ler a nova contribuição do autor mineiro. Filho de Vivaldi Moreira, brinda-nos com oitenta páginas de bom gosto, ao contar as peripécias de Miguel Torga em nossas montanhas.

Uma das qualidades de Pedro Rogério, com vários livros publicados, é dizer o máximo sem tomar espaço – em papel ou tempo do leitor. Compreende-se: homem de comunicação, vinculado por muitos anos à imprensa escrita e à televisão do Rio de Janeiro e Brasília, o autor sabe perfeitamente que não convém prender o leitor sem lhe propiciar o máximo de proveito. Não só isso: não basta dar o recado, pois cumpre agradar a quem tem o volume à mão. 

“Geografia Sentimental”, com apenas oitenta páginas como dito, preenche o escopo do autor e o interesse do público, que sofre as restrições do relógio num mundo, em que tudo é urgente e exige rapidez. A torga, nome de uma raiz que se esconde sob a rocha, existe em determinadas regiões de Portugal, onde nasceu o menino, que ganharia prestígio no mundo das letras. Porque, profissionalmente, foi Adolfo Correia Rocha, especialista em ouvidos, nariz e garganta, como informa placa à porta de seu consultório médico, em Trás - os- Montes. 

Depois de duas temporadas na Zona da Mata de Minas, para onde veio – a primeira vez com 12 anos, trabalhou na fazenda de um tio lusitano, antes chegado. Encontrou dificuldades, a perseguição de uma tia torta, sofrendo mais do que sovaco de aleijado, como se diz comumente.

A primeira temporada na Mata o ajudou na segunda, com um intermezzo na pátria. De suas viagens, fez descrições minuciosas, às vezes equívocas, por motivos compreensíveis. Em 19 de agosto de 1954, em plena crise do segundo governo Vargas, Torga fez o registro seguinte: “O caminho de ferro que vai a Minas ou a Trás-os Montes tem calhas de aço por onde rola, com a mesma, ao encontro de diversos mas igualmente fortes vínculos seu coração aflito”. 

Enfim, Torga encontrou por cá seu “segundo berço”, como denominou a terra brasileira e repetiu Pedro Rogério. De suas andanças, pode o público brasileiro extrair úteis informações e lições em longa viagem por uma região privilegiada pela cultura do café, durante período extenso, até ser forçada a buscar novas fontes de manutenção e riqueza para sua população.

E não só isso. O autor mostra a política acompanhando a economia, a decadência da região, seus esforços, o fim da Estrada de Ferro Leopoldina, as primeiras experiências sentimentais do adolescente, os estudos no Ginásio Leopoldinense, as lideranças políticas, a presença da Zona da Mata nas grandes decisões, os altos padrões de cultura, que chegaram a atrair Augusto dos Anjos, mestre-escola do famoso educandário.

Os que não conhecem ou pouco conhecem a obra de Miguel Torga, o encontrarão de corpo inteiro e a alma integral do prosador que também foi poeta, amigo de Vivaldi Moreira, presidente perpétuo da AML.

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