Abrindo a economia

23/05/2018 às 19:20.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:13

Em entrevista à revista Veja, Martin Wolf, principal comentarista do “Financial Times”, se mostra pessimista com relação a uma solução política para o Brasil fora do centro, alertando que a polarização nacional pode ter consequências, que classificou de “trágicas”.

Foi categórico: “não se pode esquecer que a economia já passou por uma recessão com queda real de 9% na renda per capita em apenas três anos, que a situação fiscal é insustentável e que um escândalo de corrupção tragou alguns dos principais empresários do país, justamente do setor que afeta diretamente o crescimento, que é a construção civil”. 

Aponta caminhos: “é preciso abrir a economia, que ainda é relativamente fechada, fazer a reforma tributária, uma reforma trabalhista de verdade, investir mais em infraestrutura e criar políticas públicas que aumentem a poupança interna”.

Na longa entrevista a Ana Clara Costa, nenhuma referência à antes tão apregoada “reforma agrária”, embora supostas lideranças entrem em cena frequentemente incitando invasões de propriedades privadas: no campo e na cidade, porque é assim agindo que se consegue maior publicidade, talvez exatamente o que desejam ou pretendem alguns. 

O fechamento da economia, mencionada por Wolf, nos conduz naturalmente ao Paraguai do tempo de Dom Gaspar Rodriguez Francia, o temido El Supremo, proclamado ditador perpétuo do país, em congresso especialmente reunido em 1816. Sob pressão dos grandes capitais ingleses e do bloqueio imposto por Buenos Aires, Francia fechou a pátria para o mundo.

O empresariado local, o clero e a aristocracia, ligados à Argentina, passaram a boicotá-lo. Francia não se intimidou. Mandou matar todos os que o hostilizavam. Foi um Deus nos acuda, porque o misantropo, detentor dos destinos guaranis, dirigia tudo sozinho, transferindo para o Tesouro o que pertencera às classes eliminadas. 

Quanto à distribuição das terras, tomou atitudes antes não pensadas. Dividiu-as em pequenas e médias propriedades, alugando-as ao povo. Cada cidadão, segundo Carlos de Oliveira Campos, possuía sua chácara, plantação e gado. Eram as denominadas “estâncias da pátria”, cuja renda revertia para o Estado. Em 1823, ele descreveu e mandou distribuir um folheto, em que afirmava: “as pessoas trabalham em união comunitária, cultivando áreas que se destinam ao poder público, dessa forma diminuindo e muito nossas necessidades, segundo as regras do Divino Mestre Jesus Cristo”.

O Paraguai exportava, mas quem o fazia era o governo, detentor de monopólio. Criou-se uma entidade importadora, para importar e distribuir ao povo os artigos que vinham do exterior, algo como uma estatal. Explicação: os nativos eram os donos do país.

Houve inimigos e opositores à maneira de agir. A Francia, pouco importava. Corrêa da Câmara, diplomata brasileiro que visitou Assunção em 1825, declarou: “sem sombra de dúvida, este país é a primeira potência da América do Sul, excetuando-se o Brasil”. No ano de 1824 não havia mais analfabetos. 

Francia morreu sozinho em 1840, sem deixar testamento, bens ou dinheiro. Achava que legava às futuras gerações uma sociedade comunitária, cooperativa, próspera e feliz. 

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