AL e as mudanças

03/01/2020 às 19:13.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:11

A América Latina em conflito. Mais uma vez. São séculos de revoltas e muitos milhares de mortos e prisioneiros. Há turbulências social, política e econômica. Como antes. Na Venezuela, rica em petróleo, luta-se contra a opressão do ditador Nicolás Maduro, sucessor de Chávez, por não querer deixar o governo. Há fome, suor, lágrimas, sangue, faltam medicamentos.

Na Colômbia, repetem-se os panelaços em Medellín, ato batizado de “cacerolazo latino-americano”, contra a gestão do presidente Juan Duque. Na Bolívia, as ruas se enfrentam, mesmo depois da deposição de Evo Morales, acusado de fraudar o resultado das urnas, que o levaria ao quarto mandato. No Equador, sacudido por manifestações populares contra o preço dos combustíveis, milhares enfrentam a polícia. 

No Chile, o presidente Piñera não consegue pacificar o país, mesmo após o anúncio de uma eleição presidencial ainda neste primeiro semestre. O poeta Pablo Neruda, que trabalhou para o Ministério do Exterior de sua pátria, inteiramente de esquerda, Prêmio Nobel, defensor do comunismo, senador, declarou certa vez: 

“A América Latina gosta muito da palavra ‘esperança’. Agrada-nos que nos chamem ‘continente da esperança’. Os candidatos a deputados, a senadores, a presidentes se autoproclamam candidatos da esperança. Na realidade, esta esperança é algo assim como o céu prometido, uma promessa de recompensa cujo cumprimento se adia. Adia-se para o próximo período legislativo, para o próximo ano ou para o próximo século”.

O Palácio de La Moneda já foi chefiado pelo comunista Allende. Como o ditador Augusto Pinochet, deixou as marcas de sua ação. E o Chile segue esperando “Um dia mais. Um ano mais. Um lustro mais. Nossa esperança não foi decapitada. Nem será decapitada”, como proclamou Neruda, há muito não aparece mais nas páginas dos jornais e nos comícios. Simplesmente morreu.

O poeta confessava compreender naturalmente que as revoluções e, especialmente seus homens, caíam de vez em quando no erro e na injustiça. Dizia: ninguém pode escapar a equívocos. Reconhece os erros da esquerda, que cantava a Internacional em Santiago. E o vate surge dos escombros para advertir: “É preciso falar mais do espírito... Exaltar mais o mundo livre/ e para que serve Cristo?”.

Para terminar: “enquanto isso, sobem os homens pelo sistema solar... Deixam pegadas de sapatos na lua... Tudo luta por mudanças, menos os velhos sistemas. A vida dos velhos sistemas nasceu de imensas teias de aranha medievais... Teias de aranha mais duras do que os ferros das máquinas... No entanto, há gente que acredita numa mudança, que tem posto em prática a mudança, que tem feito florescer a mudança... Caramba!... A primavera é inexorável!”. 

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