Domingo de Sangue

06/09/2021 às 17:03.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:49

Redijo este texto em 5 de setembro, domingo que antecede as comemorações do Dia da Independência do Brasil. O clima é tenso e se teme que o pior aconteça na terça-feira, principalmente, na capital da República e na maior cidade do país e também do hemisfério.

Por mais que se esforcem lideranças políticas, os poderes constituídos e o empresariado, o chefe da nação dirige palavras acerbas, críticas e ameaças, sobretudo a membros da Suprema Corte.

Não tenho como fugir às semelhanças com São Petersburgo, antiga capital da Rússia. Organizada pelo padre Gapon, que gozava de grande prestígio no seio de segmentos operários, mas também de respeito na própria polícia, preparava-se uma grande manifestação para 22 de janeiro de 1905, quando se entregaria a Nicolau II um documento com demandas do povo, como dia de oito horas de trabalho, supressão de horas extraordinárias de jornada, salário mínimo e uma assembleia constituinte.

A multidão se aproximou do Palácio de Inverno, procurando acomodar-se sobre a neve. Eram em torno de duzentas mil pessoas. Todas as providências foram tomadas pelas autoridades para evitar males.

Oficiais militares e a polícia intimaram os manifestantes a se dispersar, o que se tornara difícil, tão grande o número de operários, muitos em estado exaltado de espírito. Quiseram aproximar-se e a guarda do Palácio abriu fogo.

A descrição de Alan Moorehead é dramática: Os tiros, à distância de vinte jardas, diretamente sobre a massa de gente que gritava e se debatia. “Foi uma carnificina horrível. Mais de quinhentas pessoas morreram e milhares ficaram feridas. A coisa de que mais os sobreviventes se lembravam muito bem era o sangue vermelho sobre a neve”.

“A partir de então, seria tolice de Nicolau, o soberano, entregar-se à ideia sentimental de que era realmente amado pelos seus súditos mais simples e humildes. Eles se recordavam desse Domingo de Sangue e dos corpos caídos nas ruas de Petrogrado”.

O sentimento do povo russo estava sedimentado. O Czar contribuiu para um fundo em benefício das famílias dos mortos e feridos, e mais tarde, recebeu uma delegação de operários, mas nada causou muita impressão.

Depois do Domingo de Sangue, houve um firme crescimento de greves, manifestações, desordens e terrorismo declarado. Em 17 de fevereiro, o grão-duque Sérgio, governador de Moscou, foi assassinado defronte ao Kremlin. Ao terminar o ano, mais de 1.500 autoridades governamentais tinham sido mortas.

O padre Gapon, que escapara à Finlândia, mandou mensagem a Nicolau, em que dizia: “O sangue inocente dos trabalhadores, de suas esposas e de seus filhos ergue-se entre vós, ó alma destruidora, é o povo russo. Nunca mais poderá haver relação moral entre vós e ele (o povo)… Que todo o sangue a ser derramado, carrasco, recaia sobre vós e sobre os vossos”.

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