Escravatura e migração

05/09/2018 às 18:26.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:18

Francisco enfrenta corajosamente os imensuráveis problemas de nosso tempo e nosso mundo. E, ainda, os pesados pecados praticados por membros da própria igreja, como os casos de pedofilia que não poderiam mais ser relegados a plano inferior.

O repetido caso de escravaturas no Brasil é um deles, que indigna e repugna o cristão consciente deste século, que se supunha possivelmente melhor, dada as revoluções científica e tecnológica. No entanto, pensando bem, analisando os fatos e as circunstâncias, o homem deste século demonstra que não assumiu o papel que lhe fora reservado, assemelhando-se ao que viveu séculos atrás, milênios. O homem continua o lobo do homem, daí os graves e condenáveis momentos que atravessamos, no Ocidente ou não. 

Ainda há escravidão no Brasil, eis o que se vê nos meios de comunicação. Francisco, em mensagem de três anos atrás, observava que, apesar de a comunidade internacional ter adotado numerosos acordos para pôr termo à escravatura em todas as suas formas e de se ter lançado estratégias diversas para combater este fenômeno, ainda milhares de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são privadas de liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura. 

O pontífice lembra os trabalhadores e trabalhadoras, mesmo menores, escravizados nos mais diversos setores, em nível formal e informal, desde o trabalho doméstico ao trabalho agrícola, da indústria manufatureira à mineração, tanto nos países onde a legislação do trabalho não está conforme as normas e padrões internacionais, como – ainda que ilegalmente – naqueles cuja legislação protege o trabalhador. 

Mas a ação generosa do Estado passa muito longe, é o que se observa, e as dores presentes se assemelham às de períodos temíveis da História. Não melhoramos, como se esperava e se necessita. 

Mas o líder cristão focalizou também, na mesma ocasião, um problema que o Brasil hoje enfrenta, em consequência da falta de consciência de governos de outros países. Disse ele: “penso também nas condições de vida de muitos migrantes que, ao longo do seu trajeto dramático, padecem a fome, são privados de liberdade, despojados dos seus bens ou abusados física e sexualmente. Penso em tantos deles que, chegados ao destino depois duma viagem duríssima e dominada pelo medo e a insegurança, ficam detidos em condições às vezes desumanas”.

Não é o que, mutatis mutandis, ora acontece com muitos e muitos milhares de pessoas no Oriente Médio e os que escapam do Norte da África? Não faz lembrar a Venezuela?

Com o sucessor de Pedro, penso naqueles que diversas circunstâncias sociais, políticas e econômicas são impelidos à clandestinidade. E, ainda, daqueles outros que, para permanecer na legalidade, aceitam viver e trabalhar em condições indignas, como se vê no expressivo contingente de homens e mulheres, atualmente existentes nos grandes centros industriais – daqui ou dali.

Nesta hora e diante dos fatos, percebemos como há falta de consciência e de humanidade. Até quando?

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