Esperando milagres

23/03/2021 às 08:29.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:29

Talvez sob influência do nome – Messias, o chefe da nação, confia muito em milagres para liquidar a pandemia no país, quando já se antevê o dramático balanço de 12 milhões de brasileiros infectados pelo coronavírus. No dia 10 de março, o número diário ultrapassou os Estados Unidos, com 2.286 óbitos, superando em dias posteriores. Falando na Assembleia Legislativa de Minas, o ex-secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, admitiu que nos dias seguintes o número de casos poderia quintuplicar. É o que se escreveu: quintuplicar.

Pensando nisso, o presidente da República planejou o envio de uma comitiva científica a Israel para conhecer mais a respeito de um medicamento aparentemente capaz de evitar o colapso total da saúde entre nós. O próprio presidente anunciou: “Nossa equipe vai decolar no sábado à noite para Israel. Todas as tentativas foram feitas, acordos e memorandos, e agora vai até os hospitais e laboratórios. Por nossa intenção, está tudo acertado para isso”, disse o presidente para apoiadores.

Palavra de presidente é para ser respeitada e sua determinação cumprida, como admoestar o ex-ministro Pazuello, que deixou o cargo em meados do mês. Em princípio, tratava-se de um mágico “spray” nasal em estudo em Israel. Depois, mudou-se o objetivo da visita, pois se cogitaria conhecer avanços sobre medicamentos, inclusive vacinas. “Mais do que um intercâmbio, estamos buscando protocolos, acordos na área da ciência e tecnologia, que será muito proveitoso para o momento que vivemos, um legado para o futuro”.

A delegação partiu de Brasília, chefiada pelo chanceler Ernesto Araújo, e a própria viagem foi um vexame. Todos saíram daqui sem máscaras, mas tiveram de usá-las para descer em Israel. O celebrado “spray”, porém, está apenas em estudos preliminares e ainda em sondagem de aplicação à doença. Nada mais. Trata-se de mera perspectiva, que pode também ser negativa.

Uma viagem praticamente inútil. E Bolsonaro declarou sincero: “Como é para ser usado em quem está hospitalizado, quem está em UTI, eu acho que não tem problema nenhum usar esse spray no nariz do cara. O que é esse spray? Não sei”. 

Ninguém sabe, porque tudo pode mudar com o novo ministro, que é um cardiologista e não reza pelo catecismo de indicações médicas do presidente. A sucessão no Ministério foi outra demonstração de falta de efetivo conhecimento da complexidade e gravidade da hora que vivemos...e em que podemos morrer.

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