Flagrantes de uma guerra suja

24/08/2018 às 20:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:06

Sabia-se de antemão que a intervenção federal na segurança do Estado do Rio de Janeiro não seria de efeitos eficazes imediatos. Há demorados anos, aquela unidade da federação enfrenta crimes de toda natureza e os criminosos são infatigáveis. Eles agem protegidos por um arsenal de alto poder de fogo, de que não dispõem comumente as polícias estaduais.

No decorrer do tempo, os marginais se aprestaram para enfrentar os agentes da lei, com todos os recursos acionáveis e cuja eficácia a situação presente demonstra à suficiência. Vencê-los é obrigatoriamente missão coletiva, pois os bandidos cariocas se encontram mancomunados com outros grupos do país, mesmo do exterior, formando riquíssimas organizações disseminadas por todo o território nacional. 

Os fatos dos dias recentes demonstram que estávamos certos em raciocínios e análises anteriormente expostos. Até o momento em que redigimos este texto, morreram três integrantes das Forças Armadas atuantes na presente guerra.

A campanha não se encerrará em dezembro, como inicialmente estimado. Tanto que o próprio Gabinete de Intervenção Federal informou que a ocupação dos complexos do Alemão, Penha e Maré, na zona Norte, continuará por tempo indeterminado. Desde que as operações começaram, 70 pessoas foram presas e oito mortas, várias dezenas de armas e munições apreendidas, além de veículos e expressiva quantidade de drogas, motor possivelmente maior da alta criminalidade em todo o país. 

A refrega é incessante, repetem-se os tiroteios. Militares são obrigados a retirar barreiras, revistar pessoas e veículos. Numa das operações, empenharam-se mais de 4 mil homens das Forças Armadas, que tiveram de trabalhar com denodo. Um ônibus foi incendiado na Linha Amarela, no Complexo do Alemão. Outro coletivo, com 38 passageiros, ficou na linha de tiroteio em Niterói, mas ninguém foi atingido. Felizmente. Estes, contudo, são apenas casos de ações intermináveis.

Nossos problemas evidentemente não se circunscrevem apenas a zona Norte do Rio. No dia 20, um incêndio na madrugada parou a maior refinaria do Brasil, em Paulínia, no interior de São Paulo, representando a interrupção temporária no processamento de 434 mil barris de petróleo por dia, correspondente a 20% do refino no Brasil. Prejuízos e mais prejuízos. 

Poucos prestaram a atenção. Mas, no dia 22, um terremoto de 7,3 graus atingiu a Venezuela, sendo sentido no Brasil, incluindo Manaus e Boa Vista. Em todo caso, não houve destruição. 

Nesse ínterim, políticos se engalfinhavam e tentavam mudar decisões de seus partidos ou do próprio Judiciário. Lembrei-me de que, há dois anos, o general Rômulo Bini Pereira, ex-chefe do Estado Maior da Defesa, teve publicado no jornal Estado de S. Paulo artigo em que diz, peremptoriamente: “a nação brasileira encontra-se em um patamar crítico de sua história e não se antevê uma solução que possa trazer uma paz civilizada e democrática ao seu povo”.

Triste constatar que, de lá para cá, nada melhorou. O povo sofre os reveses e assiste, sem nada poder fazer, a não ser com o voto em outubro. Aliás, há dezenas de brasileiros, patriotas, que se candidatam a vencer o pior com sua competência e espírito público. 

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