JK, o urologista

18/09/2018 às 19:34.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:31

No último dia 12, foi lançado no hall da Maternidade Hilda Brandão, a primeira de Minas Gerais, por iniciativa do grande médico Hugo Werneck, o meu livro “Nonô do Tijuco- Pioneiro em Urologia”. No Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai, o advogado e historiador Nelson Hoffmann me indagou imediatamente sobre o título. Lá, há muito interesse por estas montanhas e esta gente, como se depreende.

Esclareci que Nonô foi o apelido de Juscelino Kubitschek na infância, quando percorria as ladeiras de Diamantina, a terra natal, para vender doces e juntar algumas moedas para ajudar a mãe, dona Júlia, professora e viúva, na manutenção da família. Havia a irmã, apelidada de Naná, para completar o núcleo. 

Quanto a Tijuco, por aqui se sabe também pouco, era o arraial que serviu de berço à cidade de hoje, cujo nome se autoexplica. Diamante sob o solo, no leito do rio, nas pedras trazidas pelas águas da chuva, que atraía adultos e crianças à enxurrada em busca das pequenas e grandes, capazes de enriquecer. 

Pois foi em 12 de setembro, em 1902, que Juscelino, ansioso, resolver nascer, não esperando o início da primavera. Criança de gente sem recursos, desde cedo começou a enfrentar a vida por força das circunstâncias. Concorrera a uma vaga nos Correios. Foi aprovado, ganhou idade pra assumir o cargo, mudou-se para Belo Horizonte, ingressou na Escola de Medicina (hoje ela é da Universidade Federal), que começara funcionando no Palacete Tibau (Afonso Pena com Espírito Santo), em 1911, para enfim conquistar instalações próprias na avenida Mantiqueira, então o nome da atual Alfredo Balena, outro ilustre ás da medicina mineira, nascido na Itália. 

No volume, editado pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, descrevo as agruras do jovem acadêmico da primeira entidade de ensino médico de Minas. Dias difíceis, que o obrigavam a comer sanduíche de pão com pão, sentado em alguma calçada no centro da cidade adolescente. Era preciso manter a forma e a disposição de espírito para o labor do dia seguinte. 

O “Nonô do Tijuco” resulta da própria conveniência imposta pelas condições do Brasil de 2018, comparado com aquele da segunda década do século passado. Observe-se, como dito, que Minas só conquistou seu primeiro centro de ensino médico em 1911, a despeito de esforços denodados de uma plêiade de profissionais que se formaram na Bahia ou Rio de Janeiro. 

Aliás, evoque-se a propósito, que, cansado de esperar pela máquina administrativa federal, o presidente de Minas Antônio Carlos, em 1927, criou a Universidade de Minas Gerais, de grande significação para o Estado. Foi nela, recorde-se, que o menino pobre de Diamantina se formou em 1927. Juscelino e colegas foram, portanto, os primogênitos da universidade, um título a mais na carreira brilhante de quantos ali colaram grau.
Nos velhos pavilhões da Santa Casa, no bairro de Santa Efigênia, o filho de dona Júlia fez o internato (naquela época, não havia residência médica), começou na cirurgia, dedicou-se ao estudo de doenças renais, encaminhou-se à urologia e se tornou o primeiro chefe de Clínica Urológica da instituição, algo que pouco se sabe. Como tampouco se conhece que ele é o patrono da urologia no Brasil – salve, salve!

Quem se interessar, tem mesmo de recorrer ao pequeno livro que o provedor da Santa Casa, Saulo Coelho, quis que se escrevesse e aí está. 

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