Juscelino fala aos estudantes

19/06/2017 às 20:40.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:09

Dando continuidade a um projeto de 118 anos, a Santa Casa de Belo Horizonte irá implantar a sua faculdade de medicina, depois de inspirar a criação das duas outras da capital, a começar pela hoje integrada à UFMG, antes à Universidade de Minas Gerais, ao tempo do presidente Antônio Carlos, em 1927. É iniciativa digna de atenção e respeito pela fidelidade às origens e à evolução da primeira instituição de assistência à saúde em nossa metrópole.

A propósito, recordo Juscelino Kubitschek, universitário e médico na Santa Casa, a que dedicou alguns dos melhores anos de sua profícua existência. O registro aqui me parece importante num momento de desventura para a história política do país, mas quando os bons e antigos exemplos merecem reverência. 

O escritor Edmilson Caminha, tão apreciado pelo Brasil que lê, lembrou um fato envolvendo JK, da década de 1970. Em 13 de setembro de 1974, ele respondeu ao convite do jovem Amadeu Guimarães, que o convidava a paraninfar a turma que se formaria em medicina na Federal de Juiz de fora. JK explicou, em carta, que – em virtude de compromisso fora do Brasil – não poderia comparecer. Não se deu, contudo, por satisfeito. No dia 30, redige nova mensagem aos formandos:

“Uma festa de estudantes sempre me cala ao coração, e em se tratando de doutorandos de medicina, o meu interesse se redobra, porque equivaleria a debruçar-me numa janela e rever o passado: viver com meus amigos os momentos imorredouros de emoção que também eu, há tanto tempo, experimentei”.

Repito trecho do artigo de Edmilson, referindo-se à perspectiva de que a carta seria lida pelos que colariam grau: “Gostaria, mais, de manifestar de público e de viva voz, na calorosa atmosfera juiz-de-forana, a minha gratidão àqueles que vieram buscar (-me) no refúgio de minhas atividades para participar dessa gala coletiva, que é o momento culminante em que sonhos e visões de tantos anos se concretizam, numa cerimônia permanente e inolvidável. Nesse momento, porém, defiram-me um conselho: sejam bons, e que suas atitudes se inspirem na grandeza dos corações e na pureza dos gestos”.

O filho de D. Júlia, professora de Diamantina, não considerou ainda suficiente a justificativa aos futuros colegas e evoca sua própria formatura, transcorrida 47 anos antes: “Imagino a majestade do espetáculo – além da pompa e alegria, jorrando de semblantes que se extasiam na significação desse ato: a colação do grau de médico”.

“Tão logo, no entanto, regresse do exterior, vou visitar a Escola de Medicina de Juiz de Fora, rever a cidade – e estou certo de que, na faculdade que ora deixam, encontrarei a marca dos que a cursaram com amor e proveito, tão alto a souberam elevar”. “Deus os cubra a todos de bênção”.

De Juscelino se poderia dizer o que Oscar Versiani Caldeira dissera em louvor de Alfredo Balena. Era 1950: “Como médico, nunca lhe assomou aos lábios um palavra que não fosse de conforto, que não inspirasse confiança. Sob a cúpula agasalhadora de sua excelsa bondade, deslizava uma legião de clientes”.

E mais: “Servido por um caráter adamantino e inspirado por uma bondade sem limites soube caminhar, através da senda enobrecedora do trabalho “até o sereno domínio da floria, subindo como estrelas para a altura e elas destinada” e encaminhado por este triunfo, há de permanecer como nome tutelar desta Casa, (a Faculdade), certo estamos de que “os mortos ainda e cada vez mais governam os vivos”.

São palavras válidas agora e sempre.

  

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