Melhor prevenir

29/03/2021 às 19:00.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:32

Pessoas rotineiramente tranquilas se entendiam ou se indignam diante dos fatos novos. Há a pandemia, que constitui uma tragédia cujo fim não se consegue sequer estimar. O noticiário incessante sobre intolerância, os atos de violência, a criminalidade que não estagna, os debates e insinuações dos políticos que não oferecem soluções viáveis ao cidadão, para viver mais pacificamente ou pelo menos se alimentando fisicamente, estabelecem um ambiente doloroso e perigoso.

Não estamos no melhor dos mundos, como pensaria Pangloss. Pelo contrário. O brasileiro se tem trabalho fixo (o que já é uma glória), percebe que a famigerada inflação, que tanto faz sofrer as famílias, está presente e atuante, embora nela não se fale. Como observou recentemente Antônio Machado, que entende do assunto, a economia vem envelhecendo desde os anos 1980. Simultaneamente, a população aumentou, com mais de 2/3 entre o limiar da pobreza e a miséria. Há mais gente procurando emprego do que empresas conseguindo criá-lo.

Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio mostrou que 66,3% dos consumidores iniciaram este ano endividados. O total de famílias com débitos ou contas em atraso foi de 25,2%. O cartão de crédito, principal modalidade de endividamento das famílias (78,4%), seguiu com 11,2% sem condições de liquidar seus passivos. É óbvio que há pouco lugar para expansão do consumo, quando as famílias já estão comprometidas em seus rendimentos.

Enquanto governadores e prefeitos se veem no dever de, por seus próprios meios e recursos para adquirir vacinas no exterior para salvar da morte os brasileiros ainda não levados às sepulturas, à disparada do preço do dólar, alta da cotação do petróleo no mercado internacional e mudança no comando da Petrobrás, intimidam os conterrâneos diante da ameaça de novos preços para tudo, a começar pelo indispensável à mesa. Morrer de fome?

A quadra que atravessamos é extremamente delicada e as causas são de amplo e notório conhecimento. Quando a população se alvoroça para conseguir uma ajuda emergencial, vamos dizer, ínfima, é imprescindível e urgente que as autoridades, em qualquer poder, pensem no que pode vir à frente. Prevenir é melhor que remediar.

Lembremo-nos da Revolução Francesa, como começou, sua eclosão, os miseráveis percorrendo, famintos, as vias públicas, a revolta da barriga para cima, a inexistência de horizontes, que deram no que a humanidade viu e pode incentivar os desassistidos e pobres de hoje. A pandemia é simplesmente um motivo a mais para arregimentar os sofridos e incentivar os oportunistas e vândalos.

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