Nos tempos do Coronel

08/01/2020 às 21:43.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:14

O Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, de que é presidente o escritor Ronaldo Poletti, lançou no final do ano que ficou para trás, mais uma edição – a nona – de sua Revista, de que é editor o padre José Carlos Brandi Aleixo. Presentes em suas páginas, como não poderia deixar de ser, mineiros que têm expressiva atuação nas atividades culturais em Brasília, inclusive o próprio Sacerdote, também membro da Academia Mineira de Letras, filho do grande brasileiro Pedro Aleixo, cuja biografia a nação bem conhece.

Comparece na edição outro mineiro: Ronaldo Costa Couto, que integra o sodalício, ocupando a cadeira número 128, patroneado por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Na Mineira de Letras, de que é também titular, a sua cadeira é a 16, cujo patrono é Paula Cândido e fundador Diogo de Vasconcelos.

Profundo conhecedor dos meandros da política e da administração pública, além de escritor de reconhecida competência, com ênfase da história, Ronaldo evoca em artigo o coronel Afonso Heliodoro, da PM de Minas, que esteve anos ao lado de Juscelino, seu conterrâneo e amigo desde os velhos tempos do Tijuco.

O articulista volta a 2010, no Lago Sul, Brasília, casa de Afonso Heliodoro, quando alguém perguntou quem era JK. O coronel respondeu: “Um extraterrestre que veio do futuro. Ele acordou, alegrou, mudou e modernizou o Brasil. Fez o brasileiro ter orgulho do país”.

As relações de JK com Afonso Heliodoro dos Santos, que viveu 102 anos e encerrou seu roteiro num condomínio junto à capital mineira, são também contadas na Revista do sodalício, de que o coronel foi presidente. Costa Couto relata: “amigo íntimo da família Kubitschek, viveu muitos momentos pitorescos, alguns hilários. Gostava de contar uma passagem da visita do presidente Getúlio Vargas a Belo Horizonte”. Eis o que se publica: “quando Sara Kubtischek soube que a primeira dama Darcy Vargas gostava de ouvir anedotas, chamou Afonso: “coronel, vou oferecer um chá às cinco horas lá no Palácio da Liberdade. Reunir senhoras da nata da sociedade em torno de dona Darcy. Quero muita alegria! Ela adora ouvir piadas. Você poderia trazer o Thales? O Juscelino me disse que ele é o melhor contador de piadas que temos”.

Afonso: “tudo bem, dona Sarah. Mas se ele tiver bebido, acho melhor pensarmos em outra pessoa”. Ela, incisiva: “que nada, Afonso! Traga ele de qualquer jeito”!”.

O tempo era curto. Foi direto à casa do amigo Thales da Rocha Viana, sujeito bom e espirituoso, divertido e irreverente. Amava uísque e livros. De JK: “um boêmio adorável”. Ele tinha tomado todas. Não queria ir. Só consentiu depois de muita insistência.

Comprido, magro, meio desajeitado, conseguiu equilibrar-se para vestir um surrado terno cinza amarfanhado, cheiro de naftalina, de mangas muito curtas, os punhos da camisa branca para fora. Só precisou de ajuda para botar uma velha gravata vermelha. Chegaram exatamente às cinco.

Muita gente, muitas luzes, muita cor e movimento, discrição. Clima de respeito e reverência à primeira dama do Brasil. Formou-se uma roda. Sarah: “dona Darcy, amigas, este é o Thales, nosso maior contador de anedotas”. E ele: “só de bunda sei 59”.

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