O celibato clerical

23/01/2020 às 19:19.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:24

Embora emérito, Bento XVI (ou 16) envolve-se em um ruidoso escarcéu na cúpula da Igreja de Roma. No dia 14 de janeiro, em reportagem publicada com assinatura de Rafael Belincanta, informava-se da edição de um livro de Joseph Ratzinger, em coautoria com o cardeal Robert Sarah. No texto se dizia que este cardeal que é de Guiné – “guineense”, portanto –, e não ser confundido com guianense natural da Guiana.

É um assunto muito mais complicado, contudo. A obra, que teria sido redigida pelo cardeal e pelo ex-papa, prega o celibato sacerdotal como é hoje, enquanto o Sínodo da Amazônia defende a ordenação sacerdotal de homens casados para atuarem na extensa região da América.

O problema aqueceu Ratzinger, considerado um dos pontífices mais cultos da Igreja. Ele negou a coautoria do livro, mas o religioso africano fez publicar provas de sua colaboração. Pessoas próximas a Bento 16 contestam-na. De todo modo, a mídia está em cima e “Des profondeurs de nos coeurs”, deverá ser um sucesso. A editora é a Fayar, francesa, mas o papa emérito se exclui e não ver-se envolvido em participação, segundo uma fonte anônima. 

O editor, Nicolas Dist, observa que o religioso alemão não aprovou o texto final nem a capa do livro, nem autorizou que se confirmasse ter autorizado a expressão “escrita a quatro mãos”.

Vê-se que problema de desencontro de informações e o jogo de interesses sempre existem, devendo-se ressaltar que Robert Sarah é nada menos que prefeito da Congregação para o Culto Divino, opositor severo de Francisco, segundo se informa. Nesta hora em que o Sínodo da Amazônia poderá ser posto em prática sob os olhos dos países com interesse naquele pedaço do mundo, o pior que poderia acontecer seria um duelo entre Francisco e Ratzinger.

O mais sensato entre todos os argumentadores é Andrea Tornielli, diretor editorial do “Vaticano News” – nada será mais que uma contribuição sobre o celibato sacerdotal em filial obediência ao papa. Ele afirma ainda que a posição de Francisco sobre o celibato é conhecida: “o celibato sacerdotal jamais foi um dogma. Trata-se de uma disciplina eclesiástica da igreja latina, que representa um dom precioso, definido deste modo por todos os últimos pontífices”. 

O assunto, simplesmente por entrar em pauta, é sumamente interessante, mas de extrema delicadeza para a cristandade de um modo geral, em torno do qual há a ação de quantos nada têm a ver com religião. No seio da igreja, o celibato é a obrigação de perfeita castidade que ela impõe aos seus sacerdotes sob forma de voto perpétuo e solene, implícito na ordenação. Objetiva obter do clero o mais alto grau de santidade, a dignidade do serviço divino e a maior eficácia e condições de pleno cumprimento do ministério sacerdotal. A igreja latina impõe tal obrigação ao conferir o subdiaconato. Quem esteja já unido por matrimônio não pode receber ordens sem dispensa da Santa Sé e, se a obtém, deve viver em continência e separado da mulher.

Na Grécia antiga era considerado crime não só o celibato, mas também o casamento de má maneira, como de um jovem com uma velha ou de um velho com uma jovem.

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