O legado do dignatário

13/09/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:32

Lembramos os vinte anos de falecimento de dom Oscar de Oliveira, aos 85 anos, arcebispo de Mariana, quando Belo Horizonte, festejava seu centenário. J.D. Vital, culto homem de imprensa, o reverenciou, em 10 de agosto, com uma palestra objetiva e lúcida na Academia Mineira de Letras, a que o alto dignitário pertenceu ocupando a cadeira de nº 27, na vaga de dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta. 

Muitas perdas, no circuito internacional, registrou o palestrista, mas dom Oscar foi dos menos recordados. Naquele ano, partiram: Deng Xiaoping, o criador do capitalismo de Estado na China; Diana, “a princesa do povo”, da Inglaterra, num túnel em Paris; Herbert de Souza, Betinho, da campanha contra a fome; Vicente Matheus, presidente do Corinthians; Darcy Ribeiro e Paulo Freire; o jornalista Paulo Francis; Walter Clark, diretor da TV Globo; e a recém-canonizada Madre Tereza de Calcutá, criadora das missionárias da caridade na Índia.

Sucessor de dom Silvério Gomes Pimenta e de dom Helvécio Gomes de Oliveira, dom Oscar morreu na madrugada de 23 de fevereiro, em Entre Rios de Minas, onde nasceu e foi coroinha. Praticamente esquecido, a despeito de sua grande importância cultural. 

A explicação é de Vital: razões ideológicas e armadilhas da história. “Parte da esquerda católica tomou nota, parágrafo por parágrafo, palavra por palavra, da carta-pastoral que o arcebispo escreveu em 9 de fevereiro de 1964, intitulada “Comunismo, Religião e Pátria”.

Em 1966, “outro acontecimento deu versão a novos comentários e posicionamentos dos devotos do esquerdismo denunciante na Igreja. Em 8 de setembro, após uma série de desavenças, mal-entendidos e incompreensões, foi fechado o Seminário Maior de Mariana, conforme relato em meu livro A revolta dos anjos de Minas ou da diáspora de Mariana”, afirma Vital. 

Resultado: “O episódio feriu e amargou a alma católica de Minas. E ganhou o furor nacional de muitos esquerdistas católicos que, às vezes, para estribar suas convicções ideológicas, costumam lançar ao geena da história quem pensa ou age de forma diferente da deles. Dizia-se, em visão simplista, que o seminário fechara porque o arcebispo, alinhado ao governo militar, batia-se contra os avanços do Concílio Vaticano II”.

A questão era mais ampla e profunda, gerando “a má vontade dos que pouco o consideram (ao prelado), seja no campo pastoral, seja no cultural ou na literatura”. Tem-se omitido que dom Oscar criou o jornal “O Arquidiocesano”, que circulou 36 anos, e instalou uma gráfica para editá-lo, não se lhe reconhecendo o legado, inovador e patriótico, ao patrimônio histórico, artístico e cultural de Minas Gerais”. Seus vanguardismo inspirou a criação de museus de arte em Minas, a exemplo dos de Arte Sacra e o de Música, em Mariana reconhecidos pelos organismos culturais do mundo ocidental.

Uma palestra, esta do J.D. Vital, que precisa ser conhecida pelo expressivo número de informações. E ele fala de cátedra, inclusive por ter sido chefe da assessoria de imprensa de Tancredo Neves, que saudou dom Oscar em sua posse na Academia Mineira de Letras.

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