O papa e o rebanho

14/01/2020 às 20:39.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:17

O papa Francisco não tem fugido ao desafio dos problemas da Igreja Católica em nosso tempo, até trazendo do passado distante aqueles que aparentemente já teriam sido assimilados ao longo da história. A missão a que se evoca o pontífice é das mais difíceis, nem se precisará perguntar porque.

Neste meado de janeiro de 2020, caiu nas mãos de Francisco um novo repto com lançamento pelo papa emérito Bento 16, um dos mais cultos da Igreja de hoje, o livro que ele escreveu, coadjuvado por um cardeal conservador, em que defende o celibato clerical.

Trechos de “Das profundezas dos nossos corações” foram publicados no domingo, dia 12, pelo jornal francês “Le Figaro”. 

Na obra, Bento 16 diz que o celibato – que se tornou uma tradição estável na Igreja há mil anos – carrega “grande significado” porque permite que um sacerdote se concentre em sua missão. Ele diz “não parecer possível realizar as duas vocações (sacerdócio e casamento) simultaneamente”. No entanto, em outubro, o documento final do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia propôs que homens casados em áreas isoladas pudessem ser ordenados sacerdotes. O papa Francisco agora, analisará o tema em documento próprio, conhecido como Exortação Apostólica.

Lembro aqui, por oportuno, o que disse – há décadas – Ivan Lins, que integrou as academias Mineira e Brasileira de Letras. Filho do eminente jurista Edmundo Lins, ambos mineiros, observava Ivan que o celibato eclesiástico é instituição do maior alcance social e, entretanto, veementemente censurado ao catolicismo.

O Lins filho recorda que, até o advento do catolicismo, os principais cargos sacerdotais constituíam privilégios de determinadas famílias, apresentassem ou não os seus membros as aptidões exigidas pelas funções correspondentes.

O escritor acrescentou: “a esse regime teocrático de oligarquia sacerdotal fez o catolicismo, vencendo obstáculos, suceder o regime sociocrático do mérito, quanto a ascensão aos mais altos postos da hierarquia”.

À guisa de ilustração, evocar-se-ia o caso do carpinteiro Hildebrando, eleito Gregório VII, na opinião de Ivan Lins o maior pontífice de todos os tempos. Sem esquecer o guardador de porcos Nicolau Breakpeare, que alcançou o trono pontifício sob o nome de Adriano IV.

Tinhas sobejas razões, pois, o nosso Padre Antônio Vieira, no “Sermão do Primeiro Domingo da Quaresma”, preste-se atenção! – pregado em Roma. Defendera que “o fidalgo particular pode aspirar a conde; o conde a marques; o marques a duque; e aqui para o desejo, porque o ser rei está fora da esfera da ambição. Nesta corte (a papal) não é assim. Da sotaina podeis subir à murça, da murça ao mantelete, do mantelete à mitra, da mitra à púrpura e, da púrpura, à tiara”.

Isto é: do mais humilde mister chega-se à chefia da Igreja Apostólica Romana. É bom saber, não é verdade? Para muitas correntes de opinião, cuidar dos filhos, da família, pode causar dificuldade nos cuidados e assistência aos rebanhos.

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