O que há pela frente

18/05/2018 às 18:31.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:55

Conhecendo as vicissitudes do sertão mineiro, já se preparam os moradores da região para possível novo período de escassez de água, embora a estação das chuvas tenha terminado faz tão pouco tempo. É uma fatalidade que vai se repetindo há muitas décadas, séculos, sem se chegar a uma solução possível por novos meios e métodos. A ciência evoluiu muito, mas os organismos oficiais brasileiros não chegaram ainda a uma proposta imprescindível e factível.

Há bem pouco, isto é, em meados de abril, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) sugeriu a continuação do Estado de Emergência em Montes Claros, a maior e mais forte economicamente cidade da região. Um relatório agroclimatológico do município, relativo aos impactos da estiagem prolongada na zona rural, alerta para as consequências inevitáveis. Dá o que pensar. 

Mais do que pensar, contudo, é preciso fazer-se algo. A empresa, que enviou o documento à Defesa Civil do município, o fez acompanhar de planilhas e sugestões para elaboração de um plano de ações para combate aos efeitos da prevista seca. Aliam-se, também, as causas do fenômeno: baixa pluviosidade e má distribuição das chuvas, além de altas temperaturas e déficit do balanço hídrico. Os dados advertem que, no ano agrícola que termina em junho, foram registrados apenas 803,2 milímetros de chuva por metro quadrado, bem abaixo da média hídrica de 1.077 milímetros. 

Depreende-se que há algo de ameaçador no calendário. Observa-se que o Comitê da Bacia Hídrica dos Afluentes Mineiros do Alto Jequitinhonha, vem lutando para discutir as explorações hídricas, mediante formas técnicas e com sustentabilidade. Para José Ponciano Neto, técnico no assunto, a guerra não está perdida. No caso específico da bacia do Congonhas, por exemplo, o rio pode ser recuperado, tudo depende do homem. 

O homem ajuda a destruir, todavia. Na bacia do Congonhas, destaca-se a silvicultura do eucalipto e do pinus, após a devastação – no passado – das matas nativas visando à produção de carvão. Nascentes já secaram e outras agonizam. 

Ponciano lembra que Carta Encíclica do papa Francisco alerta que a degradação aumenta por culpa dos poderosos, “mas também pelo desinteresse dos outros”. Acrescenta: “Não são somente as ações que resolverão os problemas globais, mas elas confirmam que o ser humano ainda é capaz de intervir de forma positiva. Como ele foi criado para amar, no meio dos seus limites germinam inevitavelmente gestos de generosidade, solidariedade e inteligência”. 

O número dos que se encontram sem trabalho no Brasil presentemente é alarmante. As estatísticas não deixam mentir. No entanto, os milhões de ociosos involuntários não desejarão transferir-se para as áreas rurais. Preferem permanecer em edifícios sem segurança, passando necessidades e correndo risco de vida, como aconteceu recentemente na Praça Paissandu, em São Paulo. Resta esperança, como diz Isaías Caldeira: “No país das palavras de ordens gritadas por uma minoria que nada produz, ainda há uma maioria que acredita no trabalho e no esforço pessoal como forma de ascensão social pra brancos, negros índios e mestiços”.

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