Observatório do Caos

26/05/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:43

O beco sem saída em que se encontra o Brasil, o maior país do mundo de língua portuguesa, os aqui nascidos se perguntam, parafraseando Drummond: ”E agora, José?” Resposta extremamente difícil, se se considerar a confusão a que fomos jogados no embrulho sem destinação em que nos achamos enrolados e amarrados, sem perspectivas de nos desenrolarmos e nos libertarmos no curto prazo.

Renúncia do presidente Temer? Eleição indireta via Congresso Nacional? Diretas por vacância no cargo, após dois anos do início do mandato? Anulação do resultado da chapa Dilma-Temer, de 2014. No caso de sair Temer, o presidente do Congresso tem 30 dias no cargo para realizar a eleição indireta. Quem seria o candidato?

O quadro é extremamente preocupante, fazendo-nos retroagir a anos atrás. Todos os que sabem um mínimo de história, conhecem o que aconteceu. Derrubado Getúlio Vargas no ápice de uma grande turbulência político-militar, em 29 de outubro de 1945, José Linhares foi convocado pelas Forças Armadas a assumir a Presidência da República, cargo somado à presidência do Supremo Tribunal Federal, que já ocupava, e do Tribunal Superior Eleitoral. 

Aliás, é bom que se diga que Linhares, cearense nascido na fazenda Sinimbu, distrito de Guaramiranga, município de Baturité, foi o primeiro brasileiro daquele estado a alcançar a chefia do Executivo Nacional. No bojo da revolução de 1964, outro presidente da terra de José de Alencar, seria o general Humberto Castelo Branco – parente da escritora Raquel de Queiroz, e casado com mineira da ilustre família dos Viana.

Linhares, nascido em 28 de janeiro de 1886, subiu a escada do Palácio do Catete, em 29 de outubro de 1945, aos 59 anos. Nomeado para o Supremo em 16 de dezembro de 1937, pelo próprio Vargas, na vaga do ministro Ataulfo de Paiva, só assumiu o cargo em 24 de dezembro e a presidência do Superior Tribunal Federal em 26 de maio de 1946. Foram, assim, apenas três meses e cinco dias, no cargo.

Em tão pouco tempo não pôde, nem podia fazer muito. Em todo caso, notabilizou-se pela defesa da autonomia do Judiciário, embora muito ainda se exija até hoje. Em sua gestão, fortaleceu o Poder, corrigiu medidas autoritárias do Estado Novo e reformou órgãos da administração pública, defendendo a Justiça e o cidadão.

Apesar da restrita gestão, conta-se que fez nomeações polêmicas de parentes para cargos públicos, ganhando o apelido de José Milhares. Não ficou apenas nisso. Em seu trimestre governamental, criou o Fundo Rodoviário Nacional, que existiu até 1948, financiando a implantação de rodovias estaduais.

O mais importante: assegurou a realização de eleições, as mais livres até então, disputadas pelo general Dutra e pelo brigadeiro Eduardo Gomes, consagrando-se vencedor o primeiro. E houve ainda um candidato apoiado pelo Partido Comunista. Pois, no conturbado momento que atravessamos, recebo a notícia de Ronaldo Cagiano, o excelente escritor de Cataguases, informando que está arrumando as malas para mudar-se para Portugal. Antes da transferência, sem a tradicional noite de autógrafos, lança seu livro de poemas “Observatório do caos”. Um título bastante sintomático.

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