Pio 12 e os nazistas

12/03/2020 às 18:46.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:56

Vive o mundo e passa a humanidade um dos períodos mais difíceis da história. Mas Francisco, o primeiro e único até agora com o nome no trono de Pedro, não reduz o seu volume de trabalho, em meio à crise gerada pelo coronavírus, que se transformou na preocupação maior entre as nações.

Francisco decidiu enfrentar um problema diante do qual se inclinaram seus antecessores – Os arquivos do Vaticano, que conservam, entre outras preciosas peças, as da documentação de Pio 12, que começaram a ser abertas em primeiro de março.

Procura-se confirmar com as pesquisas as razões que determinaram o silêncio do chefe da Igreja Romana. Pio 12 não ergueu a voz contra o nazismo? É um instante muito especial, tanto que oitenta e cinco pesquisadores se inscreveram para estudar os milhões de documentos pertencentes ao “arquivo secreto”, mas também de outras diferentes instituições do Estado do Vaticano, organizados nos últimos quatorze anos.

Eugênio Pacelli, Pio 12, um diplomata acima de tudo, sabia das imensas dificuldades para evitar o comprometimento da Igreja com as forças políticas em choque na Europa. Ele confessava com convicção a necessidade de manter a Santa Sé “acima da contenda dos partidos”.

Recursos do Vaticano foram usados para salvar os semitas. Em 1943, quinze dos cinquenta quilos de ouro exigidos como resgate dos judeus de Roma, foram transferidos ao chefe de polícia alemão. Com o crescimento das pressões sobre a comunidade judaica italiana, Pio 12 determinou que as casas religiosas romanas acolhessem os refugiados – e 5 mil hebreus nelas se abrigaram, assim como no próprio Vaticano. Após o conflito, o rabino chefe de Roma se converteu ao catolicismo e, ao ser batizado, escolheu o nome de Eugênio.

No entanto, Pio 12 estava convencido de que nada salvaria os judeus, servindo as providências humanitárias para motivar a intensificação das torturas e outros males nazistas contra os semitas e católicos. Eamon Duffy, consagrado estudioso do tema, argumentaria que os judeus da Alemanha, da Polônia e do resto da Europa ocupada que pagariam o preço de qualquer gesto papal. E havia mais: dado o seu horror pelo comunismo, Pio 12 não se dispunha a denunciar as atrocidades nazistas e silenciar sobre os stalinistas.

Meditava: como o oráculo de Deus permaneceria calado em face de pecados tão horríveis e contrários ao Evangelho? No fim de 1942, Pio 12 finalmente cedeu e incluiu na sua mensagem de Natal o que lhe parecia uma clara e inequívoca condenação do genocídio. Exortou todos os homens de boa vontade a trazer de volta a sociedade ao governo de Deus. Afirmava tratar-se de um dever que tínhamos com os que morreram na guerra, com suas mães, viúvas e órfãos, com os exilados e com as centenas de milhares de inocentes mortos ou condenados à lenta extinção, por vezes unicamente por sua raça ou descendência.

Tanto Mussolini quanto o embaixador alemão Ribbentrop se irritaram alegando que o papa abandonara sua pretensa neutralidade. Não poucos até hoje consideram que a mensagem foi fraca, oblíqua e cifrada, quando a horripilante realidade exigia algo mais impetuoso e direto. Evidentemente muito de valioso se achará com a pesquisa agora nos arquivos do Vaticano.

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