Pré-visão do caos

29/01/2020 às 22:28.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:28

Água superabundante no Espírito Santo, em Minas Gerais, no Norte do Estado do Rio. Inúmeras moradias destruídas, os bens de seus proprietários – das geladeiras, aos sofás e televisões, tudo reduzido à zero pela força da enxurrada que entrava pelos quartos e caminhos sem pedir licença. Depois, restava “contabilizar” o prejuízo, como insistiam os repórteres de tevê e rádio. E buscar, no meio dos escombros e da lama os corpos dos parentes desaparecidos. E se teria de computar os feridos, os desalojados, os que não têm para onde ir ou apelar. No sertão mineiro, o técnico José Ponciano Neto, registrava, o sol insistia: “a chuva tá pirracenta”. Depois, chuviscos para abrir caminho à consumação das previsões da Meteorologia.

Desde o princípio da formação e Minas, muito antes de capitanias, era assim. O historiador João Camilo de Oliveira Torres lembra que os núcleos de povoações que constituíam as Minas Gerais e já existiam no século XVIII, cujos habitantes se dedicavam à mineração, nasceram no fundo dos vales, à beira das montanhas. Dizia mais, e é importante dizê-lo: 

“Ora, o clima destes vales montanhosos é frio e úmido. As altas montanhas condensam as nuvens e as chuvas caem, provocando a desagregação dos terrenos”, tudo surgindo nos anos e séculos seguintes pela população que não tem recursos para adquirir terreno em lugar mais seguro para ali construir suas moradias.

O complicado relevo orográfico, com as mazelas decorrentes, com ruas e estradas transformadas em rios de lama, faz do mineiro um prisioneiro da montanha. Formados os núcleos habitacionais, é pelas encostas dos morros ou dos declives que acharam os mineiros onde habitar, mesmo com os riscos previsíveis. 

Ao se escolher um local para construir uma nova capital, tudo assim ficou: dos morros de Vila Rica para as serras de Belo Horizonte, belas em determinadas épocas do ano, ameaçadoras quando as chuvas mais pesadas despencam dos céus. 

Há o que temer, como há de se precaver. Mineiros sabem que a temporada anual de chuvas por aqui se estende até o terceiro mês do Dia de São José... Ou enchente das goiabas, em 19 de março. Até lá, muito pode ocorrer, mas o importante é acompanhar o boletim da Defesa Civil, alertando para os sinais que a natureza nos envia, ininterruptamente.

Os jornais advertem que não haverá trégua, nesta desmesurada estação das águas, quando se tem como certo grandes volumes de água na região metropolitana, bem como também em outros pedaços desse grande território das Minas Gerais. Os deslizamentos matam mais que chuvas propriamente. E a vida vale muito. 

Na capital das Minas, contudo, a situação chega ao pré- caos, como divulgaram, à suficiência, os veículos de comunicação, na terça-feira, 28. Jamais Belo Horizonte assistiu a espetáculo tão desastroso e, seguramente, doloroso para muitas famílias.

E, ainda, para os integrantes de equipes que formam a raça em extinção que não falham em seu dever de informar, qualquer o tempo e as circunstâncias hostis. 

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