Preservando a história

21/05/2018 às 17:04.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:11

Lamentavelmente, o brasileiro não dá maior importância à história. Daí, talvez a situação a que chegou a nação neste princípio de século, com desmandos e falcatruas disseminadas por todos os lugares. Grande parte das chamadas elites e dos governos está descompromissada com aquilo que muitas gerações construíram – o patrimônio nacional, fruto de sangue, suor e lágrimas, se me for permitido parafrasear Churchill.

Neste ano que vivemos, registram-se os 150 anos da chegada a Minas do Visconde de Barbacena, Luís Antônio Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro, que pouquíssimos saberão quem foi e que incumbência trouxera de Portugal. A ordem era promover a derrama, substantivo de que já se ouviu falar, mas não suficientemente compreendido.

Seria a cobrança, por bem ou por mal, dos impostos devidos pelos mineiros – aqui nascidos ou moradores – à coroa portuguesa. E eram altíssimos. Um quinto do ouro extraído no território se destinava a Lisboa. Resumindo: a coroa tinha direito a cobrar 20% da produção, anualmente, o que correspondia a 100 arrobas do precioso metal. Se não o fizesse, seriam adotadas medidas drásticas, com execução fiscal em massa. 

Acontece, contudo, que já existia um povo em Minas, no século XVIII, e ele não se conformava. O descontentamento se converteu em aspiração por um governo próprio. Em Vila Rica, os mais importantes, os letrados, conhecedores da independência da América do Norte, queriam fazer o mesmo. Nasceu, assim, a ideia da Inconfidência, da conjuração, que não se consumou, mas aqueceu os motores dos que já alimentavam o sentimento de pátria.

Não se falou nisso nas comemorações do 21 de Abril, em Ouro Preto, este ano. Pelo que se percebeu na mídia, desfigurou-se a solenidade, que exalta um dos mais sérios movimentos emancipacionistas brasileiros, suas lideranças e participantes. Em Ouro Preto, no passado mês, substituiu-se a bandeira do Brasil pela de grupos movidos por outros interesses e motivações.

Pelo menos, contudo, sabe-se que há instituições dignas que zelam e velam o passado, suas tradições e ideais. Dentre tantos, o Instituto Histórico e Geográfico de Minas, o Arquivo Público, a Academia Mineira de Letras e o Instituto Amílcar Martins cumprem a missão histórica, ampliando suas bibliotecas e tomando iniciativas em reverência àqueles que, no passado, tanto deram de si, inclusive a liberdade e a vida, pelo Brasil que se erguia.
Contrariamente ao dito por Fukuyama, a História não acabou. O povo do Brasil continua lutando pelas suas mais legítimas causas, anseios, demandas e reivindicações, embora haja segmentos que percorrem duvidosos e perigosos, talvez ínvios caminhos.

Diante dos fatos, lembro frases perenes: De Lord Acton: “O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente”; Mme. Roland, a caminho da guilhotina: “ó liberdade, quantos crimes se cometem em seu nome”; Luther King: “I have a dream”; de uso comum: “ó, inclusão social, quanta babaquice se divulga em teu nome”; “ó pobres, quanta roubalheira é cometida em teu nome”. 

No entanto, a mais bela é do líder senegalês Léopold Senghor, em visita ao Brasil: “É preferível anteciparmo-nos à história com dignidade do que ter que alcançá-la de qualquer maneira, no ressentimento”.

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