Racismo, zero

16/06/2020 às 20:16.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:47

O Brasil está atento aos acontecimentos nos Estados Unidos, após o sepultamento do ex-segurança negro, morto por um policial branco em Minneapolis, há meio mês. O ignóbil assassinato não encerra o processo e o problema, que sensibilizou todas as nações e impôs manifestações condenatórias de suas maiores lideranças. O episódio de agora, e os protestos que desencadeou nas grandes cidades dos EUA, renovou as lembranças da morte de Martin Luther King, em 1968, o mais simbólico dos defensores dos direitos dos negros no país.

Mas deve-se meditar sobre a observação de Angela Merkel, chefe do governo alemão: “O racismo sempre existiu. É, infelizmente, também o caso aqui”, referindo-se à sua pátria. Na realidade, o problema tem muito maior amplitude e alcança também o Brasil, habitado grandemente por afrodescendentes, conterrâneos que deram essencial contribuição à construção nacional.

Os nossos meios de comunicação divulgaram, à suficiência, os episódios alusivos à morte de Floyd e as tevês destinaram-lhe espaço específico. Mas não se pode ficar apenas nisso. É imprescindível mudar a mentalidade das pessoas, que tem raízes no próprio processo de colonização. Há, sim, racismo entre nós, com preconceitos que se revelam em muitas ocasiões, às vezes, com ampla repercussão e registros policiais.

É coisa que vem de longe, como aponta Darcy Ribeiro, lembrando que o Brasil e as demais nações latino-americanas enriqueceram secularmente as metrópoles, mediante extração de bens, que representaram “o desgaste de milhões de escravos”. Os episódios registrados na mais poderosa nação do mundo demonstraram, à suficiência, que não basta riqueza. Para viver bem, as populações têm de fazer parte de uma comunidade, efetivamente, de uma nacionalidade. Não somos governados e governantes, pois o povo não se sente um mero pagador de tributos e responsável somente por deveres.

Os regimes políticos passam, transformam-se, as instituições sociais desaparecem, e outras surgem substituindo-as, mas a nação permanece, um aparelho social cuidadosamente constituído, perfeitamente delimitado, meticulosamente regulado. Está à frente do Estado um povo que quer fazer sentir e prevalecer seus anseios e mais caros ideais. O povo, dono do poder, não é formado só por brancos, porque todos somos parte da nacionalidade. Não há espaço para racismo. Isso já era. A raça é a humana.

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