Risco em Cabangu

21/09/2018 às 20:07.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:35

Embora vândalos existam e danifiquem bens públicos valiosos, Belo Horizonte tem sabido render homenagem àqueles que honram a nação, o Estado, a cidade. É o caso, por exemplo, de Santos Dumont, o pai da aviação, cuja paternidade de invenção os norte-americanos querem atribuir aos lá nascidos. Se fosse filho ruim, os ianques diriam que era coisa ou produto da América Latina.

Quando elaborou o seu “Toponímia de Minas Gerais”, Joaquim Ribeiro Costa fez constar: “Santos Dumont: topônimo em homenagem ao genial brasileiro, nascido no município que tomou o seu nome; foi o criador da navegação aérea. Antigo distrito de São Miguel e Almas do João Gomes... Nome atual por decreto-lei nº 10.447, de 31 de julho de 1932”. 

Uma das vias públicas mais importantes da capital desde seus primórdios é a avenida do Comércio, cuja denominação se referia à atividade que ali predominava. Mesmo assim, transformou-se na Santos Dumont.

Depois, na gestão de Celso Mello de Azevedo como prefeito da capital, decidiu ele implantar uma praça junto ao Aeroporto da Pampulha, a que deu o nome de Bagatelle, evocando o consagrado voo do brasileiro, em Paris, em veículo mais pesado do que o ar. Quem hoje sabe identificar aqui o local? Peça-se ao taxista para ser levado ao logradouro mencionado para conferir se ele conhece...

Pois agora tomo conhecimento de que a casa em que nasceu Santos Dumont, na Fazenda Cabangu, naquela cidade da Zona da Mata, transformada em museu, está ameaçada de fechamento por falta de recursos municipais para sua manutenção, embora de valor inexpressivo. É algo que dói, impelindo-me ao passado, a 1932, quando o inventor se matou no hotel La Plage, em Santos, sendo delegado de polícia o advogado e escritor Raimundo de Menezes.

A notícia inicial era de que falecera de morte natural. A versão definitiva, entretanto, era outra. Ele sofria de violentas crises nervosas e de um mal incurável, só revelado anos depois pelo seu médico particular Bevan Jones, em Londres.

Ele padecia de esclerose múltipla, a mesma doença que levara também sua mãe ao desespero e suicídio. Não era invenção. O fato consta do livro “Santos Dumont, o retrato de uma obsessão”, do tenente-brigadeiro Peter Wykehan, da Real Força Aérea da Inglaterra, editado em Londres em 1962. 
Se vivesse até hoje, o tristonho e genial brasileiro, esmirrado, balançaria com força no corpo dependurado em um cordão de roupão, na claraboia do apartamento do hotel de Santos. “Magríssimo, era um feixe de ossos, informou o delegado Raimundo Menezes”. Acrescentou: “não houve inquérito policial. Tratava-se de uma glória nacional”.

Em Belo Horizonte, sede do governo do Estado em que nasceu Santos Dumont, tem-se preservado o nome do privilegiado autor de muitos inventos, o maior dos quais da aviação. Vê-se que, havendo interesse, pode-se defender o patrimônio maior de uma nação. O problema da fazenda Cabangu precisa ser equacionado. É o que se espera e em que se confia. O tempo se encarregará de prová-lo.

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