Setenta Anos sem Melo Franco

22/10/2018 às 19:20.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:22

Nascido em Mariana, primeira vila, cidade, capital, bispado e arcebispado de Minas, além de outros títulos de primazia que tenha o imperial burgo, Danilo Carlos Gomes, da Academia Brasiliense de Letras e distinto confrade na Mineira de Letras, me indaga: “está vosmicê lembrado de que, em 29 de outubro, completam-se 70 anos da morte do legendário Virgílio de Melo Franco?”.

O perguntante já acrescenta informações: “o ilustre mineiro, personagem de livro de Carolina Nabuco, foi dos bravos de 1930 e, depois, rompe com Getúlio, quando do Estado Novo e da Polaca de Chico Ciência, o Chico Campos”. Polaca é o apelido dado à Constituição outorgada à nação por Vargas, elaborada pelo genial Francisco Campos, outro mineiro, que fui conhecer no curral de sua fazenda Indostão, em Pompéu, já após a outra revolução (ou golpe, como queiram) de 1964.

O príncipe dos cronistas de agora, como ao Danilo classifica o excelente Edmilson Caminha (que é do Ceará, mas goza de prestígio nacional), ressalta que “os Melo Franco fizeram e fazem história. Aristocratas e, em geral, democratas”. E, assim é, podendo-se conferir por sua presença em fatos marcantes de nossa vida republicana, relatados pelos mais conceituados autores de diversas tendências. Sem a ilustre família, muito de nossa história não existiria e não chegaria ao Brasil de hoje, bom ou mau, pouco importa.

João Camilo de Oliveira Torres, historiador mineiro de Itabira, terra do Drummond, considerou Virgílio umas das três principais figuras formadas entre 1930 e 1945 neste país. Inteligente, culto e audaz, foi um dos articuladores da Revolução de 1930, depois trabalharia para a restauração da legalidade. Dotado de reais qualidades de líder, espírito aberto às novas influências do mundo, sinceramente apegado às crenças democráticas, não teve aproveitadas suas virtudes e méritos a serviço da nação.

Com Getúlio no Catete, esperava-se que Virgílio seria o sucessor de Olegário Maciel no governo de Minas, eis que a ele coube importantíssimo papel no processo que removeu Washington Luís da chefia nacional. Eis que, num passe de mágica, pouco compreendido até hoje, o gaúcho de São Borja indica Benedito Valadares, um hábil líder partidário que surgia. Parece que a escolha feriu Virgílio pelo resto da vida, o que se estenderia aos demais do clã. Quando um grupo de expressivas vozes decidiu enfrentar o Estado Novo, lá estava também Virgílio, o último a assinar o famoso Manifesto dos Mineiros, em outubro de 1943. O último, porque a ordem de assinaturas era alfabética e o seu nome começava com V.

Recolhido a seus pensamentos, encontrava-se Virgílio de Melo Franco em sua casa, no Rio de Janeiro, em 1948. Eis que à noite, entra em sua casa um ladrão, pronto a matá-lo e aperta o gatilho da arma que o prostra. Virgílio disparou seu revólver contra ele, que caiu ao solo. Dois cadáveres, Virgílio perdeu a vida com a arma na mão.

A gente que fazia política naquele tempo estava preparada para toda eventualidade. Para Carlos Lacerda, o Virgílio era uma mistura de idealismo, de esperteza e de astúcia, e faz muitas observações a seu respeito no livro “Depoimento”. Na primeira campanha do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República, Virgílio era orador fixo nos comícios. O Melo Franco “botou” todo seu dinheiro na campanha, uma das campanhas mais pobres feitas no Brasil. E perdeu, é claro.

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