Sobre a hora política

14/08/2018 às 18:59.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:55

Chega-se quase à primavera com os mesmos sentimentos e pensamentos. Não melhoramos, vivemos em uma espécie de desalento, que constitui forma de manifestação da falta de esperança, esquecida no meio dos caminhos brasileiros. Confesso que é muito triste.

Em artigo para o jornal da ANE, Clóvis Rossi perguntava, em julho: “agora que ninguém está olhando, confesse: você também não está se sentindo perdido, esperando alguém?”. Há mais: “o brasileiro perdeu a guerra para si mesmo (...). Ele foi incapaz de organizar e fazer funcionar bem o seu aparelho de Estado e a sua economia”, escreveu Flávio R. Kothe, professor da Universidade de Brasília e presidente da Academia de Letras do Brasil.

Passa ao lado de Antônio Calado, que observou: “quando chega a hora dessas coisas mudarem, as coisas não mudam. Não conseguimos formular metas e estratégias”.

Vera Lúcia de Oliveira, psicóloga e escritora, residente em Brasília, observa a situação, ao comentar o romance “Entre Facas”, de João Almino, cujo mundo “vai da lamparina à internet, das ruas sem saneamento básico ao Facebook; do Brasil das carroças nas ruas aos aviões cortando o país de Norte a Sul; do país que entrou para a modernidade sem vencer o atraso, da modernidade vertical, imposta de cima para baixo, em que o avanço dos meios de comunicação não eliminou o analfabetismo, a miséria espalhada como erva daninha por todas as cidades, grandes e pequenas. Um Brasil desordenado, violento, produto da desigualdade que só faz aumentar. Um desastre, como diz o narrador. Um país mudo, que só fala por mensagem de WhatsApp”. 

Os mais de duzentos milhões de habitantes deste país não se sentem tão satisfeitos como antigamente, com o que ocorre conosco agora e aqui. Basta conferir os meios de comunicação social as expressões de indignação e protestos em todos os quadrantes do país.

A questão de direitos ficou para trás. Tanto é verdade que pesquisa de agosto fluente mostrou que seis em cada dez brasileiros acham que “os direitos humanos apenas beneficiam pessoas que não os merecem, como criminosos e terroristas”. É o que consta de resultado do Instituto Ipsos, noticiado pela BBC de Londres, o mais alto percentual em 28 países auscultados.

Conceituado professor de direito anotou: “o Judiciário não julga. Por mais esforçados que sejam os juízes, encontram pela frente um procedimento arcaico, cheio de instâncias e recursos inúteis, enchendo estantes e computadores de matérias inúteis e consumindo milhares de reais. E a solução? Não há nem é previsível. Todos os planos sociais acabam no nada ou em desordem”.

Para não perder a oportunidade, lembro um sacerdote católico com 20 anos de ministério, graduado em filosofia e teologia. O padre Djacy Brasileiro observa que, nestas eleições, a gente viu poucos cristãos tentando fazer trabalho de conscientização, tentando libertar o povão da alienação política. 

“Uma fé alienante, reacionária, só contribui com as estruturas sócio-político-econômicas, iníquas, desumanas, antiéticas, geradoras de tantas injustiças, exclusões e morte. Para os que fazem da religião cristã instrumento de alienação, valem estas palavras proféticas de Jesus, o libertador. “Nem tudo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus” (Mateus 7:21-23).

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por