Uma quarta especial no Sesiminas

19/09/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:37

No Teatro Sesiminas, no simpático bairro Santa Efigênia, um dos primeiros de Belo Horizonte, realiza-se semanalmente o projeto “Sempre às Quartas”, que se tornou ponto de encontro entre os que apreciam a música erudita. Neste dia 20, contudo, há uma atração muito especial para o público. 

O violinista e regente alemão Michael Rein se apresentará, com a Orquestra Sesiminas, num repertório, em que, na primeira parte, se ouvirá o “Adagietto”, da Quinta Sinfônia, de Gustav Mahler, e o Concerto para Violino e Cordas, em Ré-maior, de Mendelssohn. Na segunda parte, será o Quarteto “De Tod un das Machen”, de Franz Schubert.

Compreende-se o interesse natural dos amantes da boa música pelo programa. Mas, outros aspectos, importantes também, marcam esta noite. Entre elas, que a peça de Mendelssohn a ser executada foi descoberta em 1951, pelo celebrado violinista Yehudi Menuhin, um gênio que o mundo aprendeu a admirar e aplaudir durante o século passado, nos teatros, nas gravações e no cinema. 

Estes pormenores são apenas alguns dos vários que realçam deste fim de dia na agradável casa de arte que o Sesiminas implantou na rua Álvares Maciel. O violinista e regente Michael Rein, alemão, virá especificamente para uma homenagem à memória do maestro Carlos Eduardo Prates, que os mineiros reconhecem como um dos valores mais altos da música brasileira, falecido há quatro anos. Pois bem. Rein é casado com Tânia, uma vocação para o canto, filha de Carlos Eduardo, o nosso maestro, a quem ele renderá preito póstumo de quem tanto se aproximou pelos laços da arte e de família. 

Prates deixou um legado valioso, além de expressiva memória sustentada por raríssimo talento por sua predominante dedicação à música erudita. A seu respeito, aliás, Alfredo Buzelin recorda o entusiasmo das plateias, quando “tão jovem, arrebatava o público, empunhando a batuta, dominada de modo incomum”. E havia prognóstico, já naquela época, de que estávamos diante de um promissor regente. Mais que simples promessa, Prates subiu ao podium da consagração internacional. E não foi outra, a razão de sua aclamada permanência em Berlim, onde conquistou láureas em credenciados certames, nos quais obteve irrestrita aprovação de celebridades. Destas, destaca-se o emblemático ícone da condução orquestral, Herbert von Karajan, cuja admiração pelo jovem Prates constata-se em sua impressionante biografia, de inumeráveis glórias.

Será uma noite de quarta-feira à altura das mais elevadas tradições da cultura mineira, a que tanto se devotou Carlos. Na privilegiada carreira, não faltou o gênero lírico, enfatizada sua atuação pelos que amam a música fina em Belo Horizonte. Sua apresentação na “Carmen”, de Bizet, no Palácio das Artes, foi consagrada e é lembrada até hoje pelos amantes da ópera.

Há um detalhe: O maestro era esposo de Haydée Cintra (o nome aponta para a musical São João del- Rei) e residia na rua Domingos Vieira, ainda em Santa Efigênia, onde ela formou um relicário com fotos e quadros do músico. Yeda Prates, irmã do homenageado, poetisa laureada, da Academia Mineira de Letras, escreveu: “Tua batuta descansa no eterno. Da ponta de teus dedos, ainda voam pássaros?” 

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