Alguma lição precisa ser aprendida

31/01/2020 às 18:33.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:30

As chuvas foram quase tema único ao longo das últimas semanas, em toda a imprensa mineira – e não é para menos. No espaço público, vi pouco esforço propositivo. Como vamos reconstruir a cidade? Vamos simplesmente asfaltar as mesmas ruas e reconstruir as mesmas galerias subterrâneas, para que tudo volte a expor a cidade aos riscos de novas chuvas? Ou vamos sair por aí implantando soluções criminosas como a cogitada pela prefeitura, no início de 2019, que retiraria o alagamento da Vilarinho para transferir o desastre para as margens do Córrego do Onça? Há disposição para se repensar a cidade? Ou vamos insistir em soluções estéticas: um pouco de asfalto aqui, uns tijolos ali e deixamos que a próxima gestão cuide das próximas enchentes, que são atribuídas à chuva, a Deus e ao passado, mas nunca são encaradas como um problema que a administração pública ignora, ao não propor obras estruturantes, e que a população agrava, ao jogar lixo nas ruas e invadir encostas…

Espero que um grande esforço de reconstrução possa ser articulado nas próximas semanas, envolvendo não apenas o poder público, mas especialmente a sociedade, que é vítima e algoz desse problema, pois os políticos não existem fora da realidade social.
Ir para a TV dizer que os “empresários gananciosos” é que causaram toda essa destruição e terminar dizendo que não é possível fazer nada para consertar o erro do passado é uma postura pobre e lamentável. Falsa e populista.

Quem criou as regras construtivas de BH foi o município, prefeitura e Câmara. Quem não atua para evitar construções irregulares e, pior, por si mesma faz obras que geram esses problemas, com a canalização desenfreada de cursos d’água ou o asfaltamento de áreas de paralelepípedo, é também a própria prefeitura. Quem falha ao não ter um programa adequado e universal de reciclagem de plástico, para evitar o entupimento de toda a nossa rede de escoamento pluvial, é também o poder público.

Nem tudo pode ser corrigido em quatro anos, mas é preciso começar. Reclamar que outros não fizeram simplesmente não serve mais como desculpa.
Alguma lição precisa ter sido aprendida pelos gestores públicos municipais, e espero que ao menos isso eles tenham retido: não é possível continuar adiando o enfrentamento dos problemas urbanos, pois o preço da paralisia é alto e, muitas vezes, pago com vidas.

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