Partidos com donos e a democracia de uns poucos

09/02/2018 às 20:47.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:15

Impressionante como, por aqui, continuamos cultivando o coronelismo político, mesmo depois de séculos de experiência frustrada dessa dominação política por uns poucos donos do poder.

Para mim, a face mais aparente desse sistema adoecido e corrupto está na organização local dos partidos políticos tradicionais, que tem donos em cada cidade, que os negociam como quem vende um frango, loteando espaços e exercendo seu pequeno espaço de autoritarismo.

Nem todos os “donos de partido” são pessoas mal-intencionadas ou corruptas, mas é importante reconhecer que eles corrompem o modelo democrático ao dividir entre uns poucos, escolhidos por critérios absurdos, toda a força de representação política.

Na verdade a própria ideia de que para fazer parte de um partido tradicional sua ficha de filiação precisa ser “abonada” por alguém da estrutura já confirma que o espaço político no Brasil tem, cada vez mais, se firmado como um ambiente de reforço dos interesses de alguns.

Para coroar esse fatiamento pessoal do espaço político existem ainda as conhecidas comissões provisórias, nomeadas para administrar partidos em certas cidades ou estados, apontadas pelas autoridades “superiores” do próprio partido, sem processo eleitoral ou segurança de mandato, para que possam ali administrar o partido no seu próprio interesse e, ainda, no de quem os nomeou e que tem o poder de destituí-los a qualquer tempo. Ou seja, a estrutura de poder nos partidos da velha política garante que tudo seja feito para atender ao interesse de quem está lá e ninguém mais.

A estrutura está comprometida a um ponto que há famílias que se especializaram nisso, construindo e manipulando siglas partidárias que usam apenas para promover suas próprias campanhas, alugando tempo de televisão, influência e bancadas a quem estiver disposto a pagar mais. Pior, mesmo em agremiações maiores, que se poderia acreditar estarem livres desse risco, é evidente a formação de grupo de poucos comandantes que manipulam toda a estrutura para viabilizar suas próprias ambições pessoais. Eles têm até um apelido publicamente: caciques partidários.
Por isso dou sempre com alegria a notícia, a quem me procura, de que o Novo não tem comissões provisórias, não persegue abrir diretórios em cada cidade nem tem pressa de que sua estrutura se multiplique pelo país, entendendo que muito mais importante do que constituir mais uma burocracia partidária é trazer pessoas que se identificam por ideias para colaborar com um projeto.

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