Cotas: que absurdo!

30/08/2021 às 17:18.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:47

Tem gente que acha um absurdo esse negócio de cotas. Quer saber? Eu também acho! O fato de, em pleno século XXI, serem necessárias políticas como o sistema de reservas de vagas é a prova de que a escravidão gerou obstáculos políticos, econômicos e sociais que ainda estão longe de serem superados. Se, com o término do período mais vergonhoso da história do Brasil, os negros tivessem tido oportunidades, talvez hoje não estaríamos falando de cotas.

O negro era considerado um objeto, uma propriedade, que, a partir do dia 13 de maio de 1888, foi abandonado à própria sorte. Não é à toa que a historiadora e professora Emília Viotti da Costa, em seu livro "Da monarquia à República" (1999), diz que “a abolição libertou os brancos do fardo da escravidão”. Diante da mentalidade opressora e segregacionista, os negros não conseguiam oportunidades nem no extrativismo ou na agricultura, áreas em que foram, inclusive, a principal força de trabalho durante a escravidão. 

Como resultado das lutas do movimento negro, só na Constituição de 1988 algumas questões passaram a ser, oficialmente, responsabilidade do Estado, entre elas, a criminalização do racismo. E somente em 2012 uma política afirmativa saía do papel. Tratava-se do sistema de cotas, instituído pela lei 12.711, que completou nove anos no último dia 29. Faça os cálculos: a escravidão “termina” em 1888, depois de 100 anos é que a Constituição Federal (1988) aborda a questão racial e só em 2012 sai do papel um instrumento pragmático de reparação histórica. Estamos ou não estamos atrasados? 

A mesma mentalidade racista que justificou a escravidão no passado é a que, ainda hoje, não reconhece a importância das políticas afirmativas. Muitos ainda criticam o sistema de reserva de vagas sem nunca terem lido a lei. Nem sequer sabem que, para ser contemplado, é necessário ter concluído todo o ensino médio em escola pública. O fato é que já se constata o aumento de negros na universidade e graduados, consequência também de outros programas e ações, que, inclusive, alcançaram os concursos públicos. 

Lamentavelmente, ainda não temos o cenário ideal. Quando negros e brancos tiverem realmente as mesmas oportunidades, poderemos dialogar sobre meritocracia. Enquanto isso, aqueles que conhecem a história e que buscam aprimorar a consciência racial, a humanidade e o princípio da equidade têm o dever de se engajar na luta antirracista, defendendo políticas públicas que visam garantir os direitos da população negra. E digo mais: não tem como ser antirracista se você se posiciona contra políticas afirmativas. O combate ao racismo estrutural precisa ser efetivo, concreto. E isso requer, sobretudo, coragem. 

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