Em busca de aliados

16/08/2021 às 19:31.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:41

“Lá vem mais uma colunista fazer ‘mimimi’ e se vitimizar!”, dirão alguns que não se darão ao trabalho de sequer concluir a leitura deste parágrafo. Mas proponho um convite: dialogar e refletir sobre o racismo e seus efeitos antes de, simplesmente, se negar a ouvir ou, neste caso, ler o que alguém tem a dizer sobre a chaga aberta da escravidão no Brasil.

Se você aceita esse convite é porque compreende que revisitar uma história que não foi muito bem contada é, também, uma forma de aprimorar a humanidade e a empatia. Estamos, então, do mesmo lado e num lugar oportuno. Assim, Perspectiva Racial é o espaço que ocupo, enquanto mulher preta e descendente de quilombola, para ser mais uma entre tantas vozes que resistem ao silenciamento. 

Ocupar o meu lugar de fala é honrar meus ancestrais e continuar a luta para que resistamos às estratégias do racismo de nos sucumbir. Não é surpreendente notar que a escravidão no Brasil e suas consequências contemplam os diversos significados desse verbo – “sucumbir”: render-se, curvar-se, desanimar, apagar-se, desaparecer e morrer. Por um momento, contudo, deixarei o arranjo das palavras para dar lugar à exatidão da matemática e à representação estatística. 

Por quase quatro séculos, o Brasil escravizou cerca de 5 milhões de africanos. O legado desse massacre não acabou em 13 de maio de 1888. Pelo contrário, começou no dia seguinte e perdura até hoje. As formas de tortura, punição e castigo não são mais as mesmas. A chibata agora é outra, mas dói e mata do mesmo jeito. Segundo o Atlas da Violência (2020), do total de homens como vítimas de homicídio, em 2018, 75,7% eram negros. No caso das mulheres, a porcentagem é de 68%.

Há de se falar das práticas racistas e do contexto hostil que nos mata aos poucos, retirando os nossos direitos, a nossa força, a nossa autoestima, a nossa alegria. Não é à toa que o rapper Emicida diz, em sua música “Levanta e anda”, que: “Quem costuma vir de onde eu sou/Às vezes não tem motivos pra seguir!”. Quer ver alguns exemplos? Nem 5% dos trabalhadores negros ocupam cargos de gerência ou direção. Somente 1,6% dos juízes são negros. A taxa de analfabetismo da população negra, que é de 9,1%, é o dobro da população branca. E, para quem esqueceu, somos 56% da população brasileira segundo o IBGE. Tá vendo?! A conta não fecha. 

Ainda faltam representatividade, políticas afirmativas, efetividade da criminalização de atos racistas, entre tantas demandas urgentes que dependem, sobretudo, do comprometimento do Estado.  Contudo, não depende só do Estado que mais pessoas estejam conosco nessa luta. E, se você chegou até aqui, eu constato que você, caro leitor, é nosso aliado. 

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