Ler Paulo Freire é um ato subversivo

21/09/2021 às 11:02.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:55

No ano em que se comemora o centenário do educador pernambucano Paulo Freire, patrono da educação brasileira, a prática educativa em prol de uma consciência crítica torna-se ainda mais relevante. As ideias freireanas, presentes em dezenas de livros, continuam corroborando a urgência de defender, amplamente, uma educação libertadora que alcance, de fato, a população negra no Brasil.

Os 133 anos que separam o dia 13 de maio de 1888 até os dias atuais não conseguiram corrigir a defasagem educacional que atinge as pessoas negras. Não é difícil entender. O Brasil teve sete Constituições Federais, que datam de 1824 a 1988. Só a partir de 1946, com o fim da ditadura do Estado Novo, movimentos negros conseguiram retomar suas organizações e construir um projeto de futuro para os negros no campo da educação.

Enquanto isso, Paulo Freire, já formado em direito, assume em 1946 o cargo de diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social do Estado de Pernambuco e, em 1961, desenvolve o seu método de alfabetização. O educador passa a incomodar e a ser perseguido pela ditadura militar. Quando tentaram-no calar, ele concluiu, durante exílio no Chile, o seu mais famoso livro: "Pedagogia do Oprimido" (1970).

Freire destaca nessa obra que a “'consciência servil' em relação à consciência do senhor” caracteriza os oprimidos. E nesse grupo, estamos nós, pessoas negras, que resistimos, cotidianamente, contra a opressão da branquitude. É válido compreender que quanto mais alcançamos a consciência crítica da opressão, mais a nossa luta pela liberdade torna-se potente. Em termos práticos, conhecer a nossa história, a luta do nosso povo, os nossos direitos e as estratégias de dominação da branquitude é a arma da nossa revolução.

Dirá Paulo Freire nas linhas finais de "Pedagogia do Oprimido": “Assim como o opressor, para oprimir, precisa de uma teoria da ação opressora, os oprimidos, para libertar-se, igualmente necessitam de uma teoria de sua ação. O opressor elabora a teoria de sua ação necessariamente sem o povo, pois que é contra ele”. Por isso, precisamos ocupar todos os espaços – acadêmicos, científicos, jurídicos, culturais, políticos – para que desenvolvamos o nosso projeto, não para oprimir, mas para, parafraseando Paulo Freire, vivermos em um mundo em que seja menos difícil amar as diferenças. 

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