As pedras do caminho

28/10/2021 às 15:20.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:08

No próximo domingo (31) comemora-se 119 anos do nascimento de um dos maiores poetas desse país e quiçá do mundo.  Filho da nossa terra, Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade mostrou a todos mais uma das potências do nosso Estado: a exportação de talentos da literatura. Assim como ele, Guimarães Rosa (Cordisburgo) e Adélia Prado (Divinópolis) são alguns nomes que também contribuíram e contribuem para a riqueza literária das Alterosas.

Além de homenagear Drummond na coluna de hoje, quero fazer um paralelo com um de seus poemas mais famosos, considerado por muitos cartão postal de sua obra: ‘No meio do caminho’.

Vários teóricos afirmam, inclusive, que o texto foi escrito como um desabafo do poeta após ter vivido uma grande tragédia pessoal com a perda do primeiro filho ainda recém-nascido. Outros, porém, dizem que a criação do famoso itabirano é uma espécie de deboche à poesia parnasiana, já que o escritor modernista faz uso de uma linguagem simples, cotidiana, clara, através de uma estrutura sem rima, musicalidade ou métrica. Para esses, a ‘pedra no meio do caminho’ de Drummond eram os parnasianos, que impediam o desenvolvimento de uma arte acessível e inovadora.

Independentemente de qual seja o motivo que levou nosso filho ilustre a imortalizar sua obra com este clássico, fato é que todos nós encontramos nossas pedras no meio do caminho.

Nós, donos de bares e restaurantes, por exemplo, nos deparamos com uma delas há um ano e sete meses, quando uma pandemia, da qual pouco se sabia, nos pegou de surpresa, abalou nossas estruturas e impôs um novo modo de enxergarmos a vida. Muitos, em todos os sentidos, não sobreviveram. Perderam a vida, bem mais precioso, os negócios, os empregos. Outros tantos tiveram que se readequar, se readaptar, aprender a empreender, a sobreviver.

A boa notícia é que todas as pedras no caminho, até as aparentemente intransponíveis, são removíveis. O famoso poema de Drummond foi extremamente criticado, principalmente porque rompia com um estilo de poesia muito erudito e clássico praticado na época em que foi publicado pela primeira vez, mais precisamente no ano de 1928. Mas, ao mesmo tempo, foi através destes versos que ele ganhou fama, ou seja, quanto mais a crítica ‘batia’, mais ele se tornava conhecido e crescia.

Quanto a nós, as perdas da pandemia foram e serão, para sempre, irreparáveis, mas, agora, caminhamos rumo à luz do sol, possibilitada graças ao avanço da vacinação. Isso significa que não existe noite tão longa que seja incapaz de encontrar a luz do dia.

Nas colunas do ano passado, usava muito a expressão: ‘vamos sobreviver’. E agora digo: ‘estamos sobrevivendo’. As pedras do caminho aos poucos vão sendo retiradas.

Um viva a vida, um viva aos nossos talentos. Um viva ao nosso querido e eterno Drummond.

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