Algumas considerações sobre a quarentena

14/05/2020 às 06:00.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:30

“Me sinto ansioso, todos os dias, mas não consigo explicar o porquê”, “Às vezes acho que vou morrer de raiva”, “Passo mal de nervoso”, “Tenho dificuldade para dormir de tanto estresse”. Essas e outras expressões são usadas para definir a angústia que muitos sentem durante a vida. 

Essa sensação parece fazer parte da realidade de muita gente. Não é à toa que queixas dessa natureza estão cada vez mais frequentes. 

>Sentir um desconforto eventual, frente a algum evento específico da vida, é natural. O que não é normal é viver diariamente como se fosse uma bomba-relógio prestes a explodir. Há pessoas que são até tranquilas, mas ao menor estímulo negativo perdem a serenidade. Essa mudança rápida de sentimento mostra a vulnerabilidade e indica que algo não vai bem. 

A vida moderna tem boa parcela de responsabilidade nessa irritabilidade aflorada. Não é à toa que tenho percebido com frequência, no consultório, pessoas se dizendo “curadas” da ansiedade nessa quarentena. 

Não deixa de ser curioso e contraditório, pois esse período nos traz incertezas do amanhã, confinamento sem prazo, rotina completamente modificada. Todos fatores, em tese, que somam para a ansiedade, mas, mesmo assim, alguns indivíduos se sentem melhores no que diz respeito à ansiedade e ao estresse. Não deixa de ser um bom indicativo a ser considerado. 

Dia desses vi a entrevista de um artista que dizia que antes do confinamento fazia 30 shows por mês, e que agora faz um pela internet, sem público nem banda. Segundo ele, assim que a quarentena terminar e a vida voltar ao normal, ele não quer retomar a mesma agenda, pois descobriu que estava perdendo momentos maravilhosos em família, vendo os filhos crescerem, momentos de lazer. Chegou à conclusão que agenda cheia e milhões na conta traziam junto remédio controlado, dores nas costas, ansiedade, sono ruim etc. Finalizou dizendo que, para a realidade dele, não compensa viver de forma frenética. Portanto, iria optar pela vida simples, mais pacata, mas com muito mais qualidade. 

Tenho ouvido de muitas pessoas que trabalhavam como se não houvesse amanhã, dizendo o mesmo pois se sentem melhor emocionalmente agora do que antes. É como se a vida tivesse freado de forma obrigatória a velocidade que nosso corpo já não estava aguentando mais. 

A urgência da vida moderna é um convite à ansiedade, e um indivíduo ansioso dispara o gatilho da impulsividade e dos excessos: come mais, compra mais, briga mais, fuma mais, bebe mais. Tudo isso na tentativa de compensar a irritabilidade sentida. Gasta mais para compensar o dinheiro que ganha em horas de estresse. Um círculo vicioso que não resolve o problema – aliás, agrava. 

Vale a pena refletir como queremos voltar à nossa rotina após a quarentena. Há pessoas que passam por situações e voltam ao padrão anterior; já outras elaboram e reorganizam um novo padrão comportamental. 

E você, o que vai carregar de novo hábito após esse momento tão atípico que estamos vivendo?

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