Homens, mulheres e a vaidade

01/02/2017 às 17:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:39

A vaidade estética sempre se expressou com mais naturalidade nas mulheres que nos homens. Eram elas as responsáveis por lotar os salões de beleza, dermatologia cosmética e clínicas de estética. Já os homens não se preocupavam em nada com a aparência. Aliás, quanto mais rústicos e largados, melhor. A vaidade deles se manifestava na área material através de aquisições de bens, carros, obtenção de status, conquistas amorosas com intuito de exibicionismo, etc. Entretanto, a vaidade masculina, que jamais deixou o palco, retorna à cena, ainda mais forte. 

Cada vez mais os homens aderem à indústria da beleza. Frequentam mais a academia, consomem produtos de beleza específico para eles, frequentam spa, fazem lipoaspiração, depilação, sobrancelha, aderem a cortes de cabelo mais ousados, aplicam botox, colocam lentes de contato nos dentes, submetem a ginecomastia (correção de mamas masculinas), aplicam prótese de silicone nas pernas, peito, braços, fazem peeling, lifting facial e inúmeros outros procedimentos antes usados majoritariamente por mulheres. 

Essa semana, o assunto mais comentado nos sites de notícia foi o implante capilar de Eike Batista. Vaidoso assumido, o empresário teve sua peruca arrancada ao ser conduzido à penitenciária no Rio de Janeiro. Rapidamente a imagem tomou a internet e aguçou a curiosidade de muitos. A farta cabeleira era falsa. O rei ficou nu. Mas a cena parece que só fez atiçar o desejo. Clínicas de implantes impulsionaram os links patrocinados nas redes sociais e a busca pelo procedimento aumentou. 

Dados confirmam que, de fato, a vaidade masculina está aquecendo a economia no Brasil. Segundo estimativa da empresa de pesquisa Euromonitor International, em 2015, os brasileiros gastaram cerca de US$ 5 bilhões com xampu, sabonete, produtos de barbear e cremes. Ainda de acordo com os dados, em 2014, os Estados Unidos lideravam o ranking de vendas no segmento de produtos de beleza masculina, seguido pelo Brasil e Alemanha. Mas a previsão é a de que em 2019 este ranking seja liderado pelo Brasil. 

O potencial para ocupar o pódio deriva do fato de o Brasil ter uma forte cultura de erotização e exibicionismo. Quanto menos avançado é o aspecto sociocultural de um país, mais há uma valorização do “ter” em detrimento do “ser”. Com isso, a aparência física ganha mais notoriedade. Ter um corpo sarado, um rosto jovem e uma farta cabeleira ganha mais atenção que ser educado, inteligente, bom caráter e equilibrado emocionalmente.

Não é à toa que a procura por cirurgia plástica é infinitamente maior que a busca pela psicoterapia. Cuidar da casca tornou-se mais importante que cuidar do conteúdo. 

Vale a reflexão à luz do escritor Eduardo Galeano: “Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus”.

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