Liberdade condicional

09/09/2021 às 10:12.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:50

Perdemos parcialmente nossa liberdade em prisões sutis nem sempre perceptíveis. Um exemplo são os vícios: deixamos de ser livres quando dependemos de algo. 

Tanto aquele que não consegue sair de casa sem beber, quanto quem não consegue dormir sem remédio ou ficar sem o cigarro. Em casos mais severos, o vício comanda a vida do usuário, que perde autonomia e passa a viver de acordo com as regras daquilo de que depende. Hoje em dia, por exemplo, somos, quase todos, escravos dos celulares. Um vício universal que comanda nossa vida, nos rouba tempo e liberdade. 

Outra prisão que nos deixa totalmente amarrados é a dependência emocional. Nela, os encarcerados estão sempre precisando de alguém para ajudar, para fazer companhia, para dar segurança, apoio, para ir junto. Em estágios mais avançados, essa dependência é capaz de suportar relacionamentos abusivos pela incapacidade de se desvencilhar. Preferem a dor e maus tratos à ruptura. E quanto maior o tempo nessa prisão, mais difícil o desvínculo, pois a energia psíquica começa a trabalhar contra a vida e a favor do vício. 

Os padrões da sociedade também nos aprisionam, nos exigem uma aparência física que faz com que muitas pessoas se percam nessa busca.

Os prisioneiros da imagem evitam lugares por não ter a roupa ideal ou por estarem acima do peso; se endividam para manter um padrão que não condiz financeiramente com a própria realidade. 

A imagem também é uma prisão: “o que vão pensar de mim?”. Dessa forma, tornamo-nos refém de uma “reputação”. Por definição, reputação é o conceito que o outro tem a meu respeito. Quanto maior a preocupação, maior o receio - isso explica alguns medos clássicos, como medo de falar em público, medo de arriscar, medo de fracassar, medo de receber um “não”, vergonha de uma maneira geral.

Há famílias que mudam de cidade ou até de país depois que passam por situações constrangedoras. Não suportam viver com a “imagem arranhada” e preferem recomeçar no anonimato. Pessoas mais desapegadas da imagem ideal vivem mais livres, pois sabem que tanto o julgamento alheio, quanto o seu próprio, não significa o seu caráter. 

Dentro de casa também podemos viver prisioneiros. Um bom exemplo são os filhos que carregam a pressão de realizarem o sonho dos pais. A expectativa de sucesso em cima de um familiar faz com que muitos se sintam obrigados a seguir os passos dos pais, escolhendo a mesma profissão ou a profissão desejada por eles. Mais do que satisfazer a si, estão presos à necessidade de satisfazer os desejos dos pais, muitas vezes impostos sutilmente. 

As prisões de grades invisíveis nos deixam mais presos que os próprios presidiários, visto que nos presídios a falta de liberdade tem prazo para acabar. Fora deles, a pena é autoimposta, e pode durar uma vida inteira. 

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