Violência emocional, o estupro que você não vê

09/11/2016 às 16:39.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:35

Muitas vezes os holofotes da violência jogam luz somente nas agressões físicas, deixando de lado a violência emocional, aquela que não é vista por quase ninguém, além da própria vítima. 

O abuso psicológico machuca tanto ou mais que os maus-tratos físicos. É um estupro ao equilíbrio psíquico e um assassinato à autoestima. Seu dano é causador de depressão, pânico, fobias e males físicos, visto que o corpo sucumbe à dor da emoção. 

Esse tipo de abuso pode ocorrer de forma evidente ou sutil. É evidente quando a violência acontece através de xingamentos, palavras ofensivas, inferiorização, ciúme exagerado e chantagem. Já a forma sutil vem através do egoísmo, frieza e descaso. 

Não é fácil admitir que um ato de violência possa vir de quem mais amamos e confiamos, como nossos pais, irmãos ou cônjuges. Muitas vezes, o caminho que a vítima encontra é justificar a violência do agressor: “sei que ele(a) quer o meu melhor”; “ele(a) é muito nervoso(a)”, “ele(a) só fala isso para meu bem”, ou “ele(a) age assim porque também foi maltratado na infância”.

A vítima tende a fechar os olhos ao abuso emocional por dois motivos: primeiro, por acreditar erroneamente que essa violência é algo premeditado. E segundo, pelo fato de ela vir camuflada de amor. Acreditando que o amor tudo supera, a vítima tende a entender os motivos de quem a agrediu, ficando o agressor absolvido pela boa fé do agredido. 

A violência psicológica acontece em episódios reincidentes com picos de furor e retomada da harmonia. Geralmente, aquele que agride, volta a ser agradável, simpático, amoroso e educado como se quisesse compensar a vítima pelo estrago já feito. Já o agredido, por sua vez, fica aliviado e esperançoso de que algo tenha se resolvido a partir daquele desentendimento. Mas, na maioria das vezes, está enganado. O que ocorre é o agressor reincidir na violência ao se deparar com uma frustração. 

Mas não está correto culpar apenas um lado. A violência emocional é mantida pelas duas partes: um abusa pela sua baixa autoestima e natureza perversa mostrando poder e controle, enquanto o outro cede, também pela sua baixa autoestima, mas por se sentir inferior e com sentimento de culpa. Ambos tornam-se complementares nas suas imperfeições. Um sadomasoquismo emocional inconsciente: um gosta de bater e o outro de apanhar. 

Quebrar esse círculo vicioso não é simples. É preciso, em primeiro lugar, enxergar o contexto sem a lente da ilusão: tortura e amor não coexistem. Depois, é necessário abandonar a condição de vítima – uma “zona de conforto” que na verdade é muito desconfortável. 

Se a violência emocional não for interrompida, traz consequências para os dois lados. Quem maltrata se solidifica no papel de algoz, ora prejudicando ora salvando sua vítima. E quem sofre a agressão, com o tempo, assume também o papel de agressor, carregando consigo cicatrizes da violência para o resto da vida. 

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