É para comemorar ou lamentar?

15/12/2017 às 14:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:16

No canal de vídeos que mantenho no YouTube e é extensão do portal Seminovos BH Notícias (www.seminovosbh.com.br/noticias), vez por outra apareço usando nariz vermelho de palhaço em protesto por decisões discutíveis de nossas autoridades de trânsito. Foi assim, por exemplo, com a proposta de multar pedestres e ciclistas – se houvesse um controle efetivo sobre os veículos motorizados e práticas como o uso do celular ao volante e a adoção de películas nos vidros com bem menos transparência do que prevê a lei até seria aceitável.

Pois eis que agora, mesmo sem a ajuda das imagens, cá estou eu novamente com o adereço, em “homenagem” à Resolução 716/2017 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que regulamenta a Inspeção Técnica Veicular. Resumindo, veículos novos, seminovos ou bastante usados terão, a cada dois anos, de passar por um pente-fino que constate as condições básicas de circulação e segurança e o nível de emissão de poluentes. Sem a aprovação, nada de licenciamento.

Sim, concordo que a proposta é elogiável; as coisas funcionam assim no dito Primeiro Mundo e foi dessa forma que se desmascarou um dos maiores escândalos da história do automóvel, o Dieselgate, que envolveu o Grupo VW. E a própria Anfavea, que reúne as fabricantes, defende a medida.

Mas... o que preocupa é a distância entre a teoria e a prática. Basta ver quantos carros, motos e comerciais caindo aos pedaços circulam por nossas ruas e estradas, queimando óleo, com emissões visivelmente superiores aos limites. E muita gente, principalmente longe dos grandes centros, trafega sem a documentação atualizada, não está nem aí para licenciamento; modifica as características do veículo sem o menor fundamento técnico. E há os pneus carecas, os freios insuficientes para imobilizar carretas com carga muitas vezes superior ao permitido e outras aberrações.

E como estamos no Brasil das leis dribladas, do jeitinho, da corrupção nossa de cada dia, não há como não enxergar na ideia mais uma forma de ganhar dinheiro e beneficiar um setor específico. Sim, porque para ser sério e eficiente o programa exige investimento, equipamentos, logística e estrutura. E que garantia existe de que o proprietário que vive em um vilarejo afastado terá o veículo esquadrinhado da mesma forma do que alguém que vive numa grande capital; que todos serão vistoriados e quem levar bomba vai corrigir os eventuais defeitos e rodar em condições ideais (a lei deve ser igual para todos, certo)? Temos gente, competência e capacidade de oferecer o serviço em um país de dimensões continentais? Tenho cá minhas dúvidas, que são muitas. Por isso, sigo com o nariz de palhaço, na esperança que os fatos me desmintam...

  

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