Ainda sobre o Maio Amarelo

11/05/2018 às 17:30.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:47

 Na semana passada falei nesse espaço sobre o Maio Amarelo, movimento criado há cinco anos para desenvolver ações que aumentem a segurança no trânsito de ruas e estradas, e de como a hashtag escolhida para esse ano resume perfeitamente o papel de cada um nessa história: #nóssomosotrânsito.

Sim, porque mais do que nunca é o momento de dividir responsabilidades e não isentar ninguém. Evidentemente começa pelo poder público, que tem nas mãos a missão de organizar os sistemas viários, garantir sua manutenção e fiscalizá-los. E nem é preciso gastar muitas palavras para se ter a certeza de que o que é feito é insuficiente – basta ver a quantidade de buracos, as estradas com placas de sinalização cercadas de mato, as localidades ainda separadas do resto do mundo por caminhos de terra, as rodovias que deveriam estar duplicadas e, com pista simples (e perigosa), continuam ceifando vidas, em meio à falta de entendimento entre as esferas de poder e a ausência de dinheiro, usado para fins menos nobres.

Mas um dos costumes condenáveis do brasileiro é justamente o de jogar a culpa para o outro, sem assumir que tem sua parcela. Aquela velha história dos pedestres que ignoram as passarelas em locais de grande circulação para se arriscar em meio ao tráfego, da turma que se mantém firme no celular ao volante escondida pelas películas, e coisas do tipo.

Um aspecto em que inclusive somos campeões é a capacidade de usar a inteligência para o mal. O que dizer por exemplo desse costume que se espalha entre os donos de superesportivos importados que custam centenas de milhares de reais (quando não mais)? O sujeito põe o carro no nome da firma e, como ela não é obrigada a identificar o condutor, fica tudo por isso mesmo, com a pontuação na carteira preservada, por mais que os radares registrem excessos e mais excessos.

Além do risco de atingir quem nada tem a ver com isso – e esse tipo de artimanha normalmente é revelado justamente quando algo dá errado e um outro (ou outros) se machuca –, é um sinal de covardia imenso, infelizmente não abarcado pela lei que, diga-se de passagem, tem se tornado mais rigorosa nos últimos anos justamente para coibir comportamentos do gênero.

De erros e omissões maiores ou menores; incapacidade de cumprir ou fazer cumprir a lei e sempre com uma desculpa esfarrapada na manga do colete faz-se o caos nosso sangrento de cada dia. Eu ainda prefiro acreditar na educação, no surgimento de uma cultura de cidadania e respeito ao semelhante, ainda que isso demore décadas, e embora saiba que aqui o melhor jeito de ensinar é fazendo doer no bolso. Enquanto isso não acontece, que consigamos aproveitar o Maio Amarelo para propor mudanças, lembrar do quanto ainda estamos distantes do ideal e trabalhar com as futuras gerações, para que elas brilhem naquilo que as nossas estão fracassando.

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