Corredor da discórdia

05/01/2018 às 19:13.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:37

A coluna começa o ano falando de um tema recorrente, mas cada vez mais atual: as motocicletas e o comportamento de seus condutores. Antes que alguém já venha jogando pedras, deixo claro que também ando de moto, gosto inclusive de fazer longos trechos de estrada, de preferência na companhia de outros amantes das duas rodas, até mesmo para garantir maior segurança em meio aos demais veículos e a sempre bem-vinda ajuda em caso de contratempo.

O problema, no entanto, está no trânsito cada vez mais caótico das nossas metrópoles, o que já me fez dividir neste espaço quem circula sobre moto, scooter ou ciclomotor em dois grupos: motociclistas (os que respeitam as regras e prezam a condução defensiva) e os motoqueiros (a turma que se acha possuída do espírito de Valentino Rossi e está apenas preocupada com o caminho mais rápido entre dois pontos, longe de ser uma reta). Não é o caso de generalizar por cilindrada, ou natureza do uso do veículo (profissional, lazer ou apenas deslocamento casa/trabalho/casa).

A questão é que quem vive nos grandes centros já se acostumou a uma guerra de trincheiras entre duas e quatro rodas, em que muitas vezes retrovisores e latarias respectivas são os grandes prejudicados, quando não acontece coisa pior. Os motoqueiros enxergam, entre as faixas normais de circulação, um corredor próprio que nada, nem ninguém, pode ameaçar. Cortam pela esquerda e pela direita com uma velocidade impressionante. E, como se as ruas e avenidas fossem uma pista de arrancada, precisam ganhar dos demais assim que a luz verde se acende.

Algumas cidades começaram a olhar para o problema e oferecer soluções, como a adoção de faixas exclusivas de espera sob os sinais, adiante dos demais veículos, de modo a acabar com a divisão por espaço. Mas os especialistas em trânsito e quem convive com a batalha do dia a dia sabem que não é suficiente.

Daí que é o caso de se aplaudir o Projeto de Lei 5.007/13, do senador Jorge Viana (PT-AC), que foi aprovado pelas comissões temáticas da Câmara dos Deputados e será encaminhado ao Senado para apreciação em plenário. O texto regulamenta o chamado “corredor”, permitindo o deslocamento das motos apenas quando o fluxo nas faixas estiver lento, ou parado e, mais importante, torna infração de trânsito o uso da faixa mais à direita para ultrapassagem. Além disso, torna obrigatória a adoção das faixas de espera nos sinais.

A grande questão, no entanto, não está na legislação, e sim em seu cumprimento. Se não houver fiscalização e punição – estamos no país em que a mexida no bolso costuma ser a melhor forma de educação –, de nada adianta lei. Seguiremos nós numa batalha sobre rodas(e sem, no caso dos pedestres), no extremo oposto dos valores pregados na época das festas de fim de ano. Alguém aí falou em solidariedade?

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